Assinalemos, em primeiro lugar, a importância dada também ao símbolo do javali pela tradição hindu que, por sua vez, procede diretamente da tradição primordial e afirma de maneira expressa no Veda sua origem hiperbórea. O javali (yaraha) representa não apenas, como se sabe, o terceiro dos dez Avataras de Vishnu no Manvantara atual, mas também o nosso Kalpa inteiro, isto é, todo o ciclo de manifestação do nosso mundo, designado como Shwetavaraha-Kalpa, o “ciclo do javali branco”. Assim sendo, e se considerarmos a analogia que existe necessariamente entre o grande ciclo e os ciclos subordinados, é natural que a marca do Kalpa, se pudermos nos exprimir dessa forma, encontra-se no ponto de partida do Manvantara. É por isso que a “terra sagrada” polar, sede do centro espiritual primordial deste Manvantara, denomina-se também Varaht ou “terra do javali”. Além disso, já que é lá que residia a primeira autoridade espiritual, da qual emanava todas as demais autoridades legítimas da mesma ordem, é muito natural que os representantes dessa autoridade tenham recebido também o símbolo do javali como sinal distintivo e o tenham mantido no correr dos tempos. É por isso que os druidas designavam a si próprios como “javalis”, mas como o simbolismo tem sempre múltiplos aspectos, pode-se, ainda, ver aí, ao mesmo tempo e de modo complementar, uma referência ao isolamento que mantinham em relação ao mundo exterior, visto que o javali sempre foi visto como “solitário”. É preciso acrescentar, porém, que esse isolamento, realizado materialmente entre os celtas e os hindus sob a forma de um retiro na floresta, tem muita relação com o caráter de “primordialidade”, cujo reflexo ao menos deve ter sempre se mantido em toda autoridade espiritual digna da função que exerce. [Guénon]
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