Ovo do Mundo

O “Ovo do Mundo” não representa o “cosmo” em seu estado de plena manifestação, mas sim aquilo a partir do qual efetuará seu desenvolvimento. E se esse desenvolvimento é representado como uma expansão que se realiza em todas as direções, a começar de seu ponto de partida, é evidente que esse ponto coincidirá, necessariamente, com o próprio centro. Desse modo, o “Ovo do Mundo” é realmente “central” em relação ao “cosmo”. A representação bíblica do Paraíso Terrestre, que é também o “Centro do Mundo”, tem a forma circular, que pode ser vista como sendo o corte horizontal de uma figura ovoide ou esférica. Podemos acrescentar que, de fato, a diferença entre essas duas formas consiste essencialmente em que a esfera, estendendo-se de igual modo em todos os sentidos a partir do centro, é, na verdade, a forma primordial, enquanto que a do ovo corresponde a um estado já diferenciado, que deriva do precedente por uma espécie de “polarização” ou de desdobramento do centro. Pode-se considerar que tal “polarização” ocorre desde o momento em que a esfera realiza um movimento de rotação em torno de um determinado eixo, visto que, a partir de então, nem todas as direções do espaço desempenham mais de modo uniforme o mesmo papel. É isso que marca a passagem de uma à outra dessas duas fases sucessivas do processo cosmogônico, simbolizadas respectivamente pela esfera e pelo ovo. (Guénon)


O “Ovo do Mundo” é central em relação ao “cosmo” e ao mesmo tempo contém em germe tudo o que este conterá no estado plenamente manifestado. Todas as coisas encontram-se portanto no “Ovo do Mundo”, mas num estado de “encobrimento”, que também é figurado de forma precisa, pela situação da própria caverna, com seu caráter de local oculto e fechado. As duas metades nas quais se divide o “Ovo do Mundo”, de acordo com um dos aspectos mais habituais de seu simbolismo, tomam-se respectivamente o Céu e a Terra. Na caverna, do mesmo modo, o solo corresponde à Terra e a abóbada ao Céu. Nada existe em tudo isso que não seja perfeitamente coerente e normal. (Guénon)

René Guénon