A. M. Hocart assinala, num livro sobre as castas, o fato de que “na organização da cidade, os quatro grupos estão situados nos diferentes pontos cardeais no interior da muralha quadrangular ou circular”. Essa repartição não é específica à Índia, e pode ser encontrada entre os mais diferentes povos, ocorrendo, na maioria dos casos, que cada ponto cardeal corresponda a um dos elementos e a uma das estações, bem como à cor emblemática da casta que nele estiver situada. Na Índia, os brâmanes ocupavam o norte; os chátrias, o leste; os vaixiás, o sul; e os sudras, o oeste. Havia, assim, uma divisão em “quarteirões”, no sentido próprio dessa palavra, que, na origem, designa evidentemente a quarta parte de uma cidade, se bem que em seu uso moderno essa significação específica parece ter sido esquecida por completo. Essa repartição, é claro, está em estreita relação com a questão mais geral da orientação que, para o conjunto de uma cidade e para cada edifício em particular, desempenhava, como se sabe, um importante papel em todas as antigas civilizações tradicionais.
Entretanto, o Sr. Hocart embaraçou-se para explicar a situação própria de cada uma das quatro castas;2 tal embaraço, no fundo, provém apenas do erro que cometeu ao considerar a casta real, isto é, a dos chátrias, como sendo a primeira. Assim, partindo do leste, não conseguiu encontrar qualquer ordem regular de sucessão, e a situação dos brâmanes ao norte, em especial, tornou-se então totalmente incompreensível. Ao contrário, não existe qualquer dificuldade se observarmos a ordem normal, ou seja, se começarmos pela casta que é a primeira na realidade, a dos brâmanes. É preciso então partir do norte e, girando no sentido de pradakshina encontramos as quatro castas sucedendo-se conforme uma ordem perfeitamente regular. Resta apenas, desse modo, compreender da forma mais completa possível as razões simbólicas dessa repartição segundo os pontos cardeais. (Guénon)