Segundo René Guénon, a religião é coisa totalmente ocidental; não se pode aplicar este termo às doutrinas orientais sem estender abusivamente seu significado. A etimologia do termo “religião” nos oferece pouco para defini-lo: “o que religa”, entendido como o que religa o homem ao um princípio superior, ou simplesmente o que religa os homens entre si. A tradição greco-romana donde nos vem este termo privilegia inclusive a segunda acepção. A religião fazia parte de de maneira indissolúvel do conjunto de instituições sociais, donde o reconhecimento dos “deuses da cidade” e a observação das formas cultuais legalmente estabelecidas constituíam condições fundamentais e garantiam a estabilidade, dando às instituições um caráter verdadeiramente tradicional. O princípio superior ficava de certo modo incompreendido, o que explica a inaptidão metafísica comum aos Ocidentais. Apesar de tudo a concepção de religião atual ainda difere e se distancia desta concepção original, dada pela tradição judeu-cristã. A adoção do termo religião por esta tradição que veio a prevalecer no Ocidente, promoveu a primeira acepção do termo, a ligação como um princípio superior, neste caso Criador.
Concluindo seu excelente ensaio sobre o tema “religião” Guénon afirma que a religião comporta essencialmente três elementos de ordens diversas: um dogma, uma moral, um culto; faltando um destes elementos não se tem uma religião no sentido próprio do termo.
Assinalemos apenas de passagem, a esse respeito, o frequente e deplorável abuso da própria palavra “religião”, empregada a todo instante em expressões como “religião da pátria”, “religião da ciência”, “religião do dever”. Não se trata de simples descuidos de linguagem, mas sim de sintomas da confusão que reina por toda parte do mundo moderno, pois a linguagem, em suma, representa fielmente o estado de espírito vigente, e tais expressões são incompatíveis com o verdadeiro sentido religioso. (Guénon)
Todos os dogmas, todas as prescrições e todos os meios de uma religião tem sua razão suficiente nas três vocações fundamentais do homem: no discernimento, na prática e na virtude. E todos os dons e meios de uma religião o homem os leva em si mesmo, mas já não tem acesso a eles por causa da queda; daí precisamente a necessidade – em princípio relativa – de formas externas que despertam e atualizam as potencialidade espirituais do homem, mas que correm o risco, também, de limitá-las; daí, além do mais, a necessidade do esoterismo. (Schuon PP)