No Egito antigo, o vaso era o hieróglifo do coração. Esse vaso, tomado como símbolo e substituto do coração na ideografia egípcia, é que nos fez pensar de imediato no Santo Graal, ainda mais que neste último, além do sentido geral do símbolo (considerado ao mesmo tempo sob os seus dois aspectos, divino e humano), vemos também uma relação especial e muito mais direta com o próprio Coração de Cristo.

De fato, o Santo Graal é o cálice que contém o precioso sangue de Cristo, e duplamente, visto que serviu primeiro para a Santa Ceia e depois, com ele, José de Arimateia recolheu o sangue e a água que escorriam do ferimento aberto pela lança do centurião no costado do Redentor. Esse cálice, portanto, substitui de algum modo o Coração de Cristo, como receptáculo de seu sangue; toma, por assim dizer, seu lugar e torna-se um equivalente simbólico. Nessas condições, não fica ainda mais notável que o vaso tenha sido anteriormente um emblema do coração? Além disso, o cálice, sob uma ou outra forma (taça, copa), do mesmo modo que o coração, desempenha um papel bastante importante em muitas tradições antigas. E, sem dúvida, foi isso o que ocorreu de modo especial entre os celtas, pois veio deles aquilo que se constituiu no próprio fundamento ou, pelo menos, na trama da lenda do Santo Graal. É lamentável que quase nada se possa saber com precisão sobre a forma dessa tradição, no período anterior ao cristianismo, o que aliás acontece com tudo que se refere às doutrinas célticas, visto que para elas o ensinamento oral foi sempre o único modo de transmissão utilizado. Mas, por outro lado, existe concordância suficiente para que possa ser estabelecido, ao menos, o sentido de seus principais símbolos, o que é, em suma, o mais essencial. [Guénon]

Graal