Suzuki (MCB) – Eckhart Existencialidade

Daisetz Suzuki — MÍSTICA: CRISTÃ E BUDISTA
Existencialidade

Deves conhecê-lo (Deus) sem imagem, sem semelhança e sem meios. — “Para que eu conheça Deus assim, porém, sem coisa alguma intermediária, nada mais devo ser que ele, e ele nada mais deve ser do que eu”. — Digo: Deus deve ser o próprio eu, eu o próprio Deus, tão completamente que este ele e este eu sejam um só “é”, nesta “existencialidade”, trabalhando eternamente; mas, enquanto este ele e este eu, para o entendimento Deus e a alma, não forem um único aqui, um único agora, o eu não pode trabalhar nem se confundir com aquele ele.

O que é a vida? A existência de Deus é minha vida, mas, se assim é, o que é de Deus deve ser meu e o que é meu deve ser de Deus. Deus, é minha “existêncialidade” e nada mais nada menos que isso. O justo vive eternamente com Deus, a par com Deus, nem mais abaixo nem mais ao alto. Toda a sua obra é feita por Deus e Deus por ela.

Como se vê pelas citações acima, era natural que os cristãos ortodoxos da época acusassem Eckhart de “herético” e que ele se defendesse. Talvez devido às nossas peculiaridades psicológicas, há sempre duas tendências opostas na maneira humana de pensar e de sentir: extrovertida e introvertida, externa e interna, superficial e profunda, objetiva e subjetiva, exotérica e esotérica, tradicional e mística. A oposição entre essas duas tendências ou temperamentos é, muitas vezes, demasiadamente profunda e forte para qualquer forma de conciliação. É isso que leva Eckhart a queixar-se que seus adversários se mostravam incapazes de compreender seu ponto de vista. Assim, diz ele: “Se pudesses ver com o meu coração, compreenderias minhas palavras, mas são verdadeiras, pois a própria verdade as ditou”. Agostinho é ainda mais rude que Eckhart: “O que é isto para mim, embora ninguém o compreenda!”

Daisetsu Teitaro Suzuki