Pelo que respeita a data da composição, “posto que impressa no primeiro quartel do século XVI, ensina o saudoso mestre ). Leite de Vasconcelos, a páginas 136 de suas Lições de Filologia Portuguesa, 2. edição, 1926, esta obra representa uma fase linguística muito mais antiga, dos começos do século XV ou ainda dos fins do século XIV. Talvez não passe de reprodução de uma obra impressa no século XV, de que não se conhece hoje nenhum exemplar, pois não é natural que imprimissem pela primeira vez no século XVI um antigo texto manuscrito sem o modernizarem”.
Véu ainda mais impenetrável encobre a pessoa do autor. A páginas 94 de sua Portuguese Literature (p. 113 da tradução portuguesa), contenta-se o simpático lusitanista. e penetrante crítico Aubrey F. G. Bell com ponderar que, “no seu principal assunto; o elogio da vida solitária, este livro faz lembrar o título do tratado atribuído a D. Felipa de Lencastre — Tratado da vida solitária, tradução do latim de Lourenço Justiniano. Mas o De vita solitaria deste último é inteiramente diverso do Boosco deleitoso, que parece composto antes do nascimento de D. Felipa, em 1437”. Tão-pouco elucida o problema el-rei D. Manuel II no extenso estudo que consagra ao Boosco em Livros antigos portugueses, Maggs Bros, Londres, I, 1929, p. 287-299. O mesmo se dá com Agostinho de Campos na citada História da literatura portuguesa ilustrada, I, p. 174-175.
O primeiro erudito de língua portuguesa que conseguiu levantar uma ponta do véu foi Mário Martins, em artigo publicado na revista lisbonense Brotéria, vol. XXXVIII, 1944, p. 361-373, onde cita, de Arturo Farinelli, Itália e Spagna, Torino, I, 1929, o primeiro estudo — Petrarca in Ispagna nell’ Età Media. Suas investigações evidenciaram o seguinte facto: o imortal cantor de Laura não é tão só “responsável pela lacrimosidade preciosista e o incurável dolor de amor, que se arrasta, sensualmente, no pastoralismo espanhol e lusitano”; dele proveio, outrossim, aos povos da Península, o amor profundo da soledade, no sentir de Karl Vossler. Poesie der Einsamkeit in Spanien, 1935 (trad. esp. La soledad en la poesie espanola. Madrid, 1941). O Boosco esclarece um capítulo de nossa história literária, pois em escrito algum português é tão acentuada como nele a influência do De vita solitária de Petrarca.