Algazel – O renascimento das ciências religiosas

Excertos da apresentação de T.J. Winter do volume 40, A LEMBRANÇA DA MORTE E O APÓS VIDA

A decisão histórica de Algazel de devotar sua vida ao Sufismo foi ocasionada por sua consciência da morte iminente e do Juízo, e não surpreende que nas obras deste período final de sua vida tenha expressado uma grande preocupação com este tema. Enquanto em obras anteriores a este período, as questões referentes à escatologia eram tratadas convencionalmente a maneira dos teólogos, como uma categoria de crenças de salvação, no RENASCIMENTO são dadas ênfase, pois o Após Vida é mencionado em quase toda página e forma o leitmotiv do livro. No Livro I, com grande retórica comum no RENASCIMENTO, ele clama que «o Após Vida aproxima-se e este mundo passa; a jornada é longa, mas as provisões são escassas e os perigos enormes…». Devido a lamentável ghafla, ou imprudência, da gente comum, e do orgulho e mundanidade dos ulama, os adivinhos, que não mais podem ser confiados como guias dos homens para o “caminho do Após Vida”, Algazel se encontra levado a criar uma obra não menos dramática do que o RENASCIMENTO DAS CIÊNCIAS RELIGIOSAS.

O RENASCIMENTO, então, é uma tentativa de universalizar a experiência transformativa central da carreira do autor. Ela reflete sua convicção de que o aprendizado convencional da época, tratando como faz somente os aspectos mais superficiais da condição humana, falhou em abalá-lo da preocupação com suas preocupações sublunares. A resposta, como Algazel descobriu por si mesmo, está somente em internalizar as formalidades da religião através de um sabor (dhawq): uma experiência religiosa pessoal. Que tal conhecimento é possível é a mensagem reiterada por muitos em seus quarenta livros, começando com o LIVRO DO CONHECIMENTO, até que uma segura epistemologia, cuja busca tanto atormentou o autor em Bagdá, seja exposta. Termos chaves como ilm (conhecimento), hikma (sabedoria)), e fiqh (jurisprudência), são examinados e definidos, e dhawq posto como o único caminho para a certeza (yaqin). É fortificado com esta certeza que o domínio das ciências islâmicas tradicionais deve ser aproximado, e a exposição destas, começando com o kalam, procede através das quatro partes de toda obra: sobre a Louvação, os Usos, os Vícios Mortais e as Virtudes Salvadoras, até um clímax, onde a voz do Após Vida, que ressoa por toda a obra como um cantus firmus, finalmente soa sozinha.

Algazel (c. 1058-1111)