Michel de Socoa (pseudônimo de Luc Benoist) [LBTC]
Qualquer que seja a natureza da relação entre o mundo celestial e o pequeno mundo do homem, ela se manifesta de uma certa maneira que precisa ser definida. Repetimos que o simbolismo astrológico nos foi transmitido pela tradição e que nada pode ser feito nesse campo sem ela. Infelizmente, por meio de uma degeneração da interpretação, o simbolismo dos princípios foi transformado em uma equivalência literal, que esconde as grandes leis. Portanto, é uma questão de redescobrir o significado original, respeitando o espírito da tradição.
A correspondência entre os signos do zodíaco, os planetas e o homem é, antes de tudo, corporal. Anatomicamente, cada signo corresponde a uma parte do corpo, enquanto cada planeta corresponde a uma função e a um sistema fisiológico. Essa observação muito importante foi feita por M. Coton-Alvart em uma palestra muito recente proferida na Société Française d’Astrologie. O que ele destacou particularmente nesse estudo foi a natureza complementar das funções e dos sistemas que, no zodíaco, correspondem a signos opostos. Isso é melhor ilustrado pela Figura abaixo, que mostra a estreita ligação entre, por exemplo, o sistema cerebral e a medula, a digestão e a pele, a garganta e os órgãos genitais, o coração e o sistema venoso das pernas, e assim por diante.
Esses sistemas anatômicos e fisiológicos são postos em movimento, por assim dizer, por outra correspondência mais geral que precisa ser delineada, a dos elementos e humores.
Sabemos que os doze signos do zodíaco são divididos em quatro triplicidades, cada uma relacionada a um elemento específico: água, ar, fogo e terra. Além disso, cada um dos signos de cada triplicidade manifesta um modo específico do elemento em consideração, ou seja, ele é sucessivamente considerado em um estado livre, em um estado fixo ou em um estado vibratório.
Como o Sr. Coton-Alvart salientou na notável palestra à qual acabamos de aludir, não devemos nos enganar quanto à natureza exata dos elementos tradicionais. Acima de tudo, devemos evitar identificar o ar, o fogo, a água e a terra com matérias naturais como as conhecemos na experiência cotidiana. Esses elementos tradicionais, que a alquimia nos mostra que podem ser transformados uns nos outros e que, por fim, se dissolvem em um quinto elemento mais elevado, o éter, não são estados particulares da matéria, mas sim o que os escolásticos chamavam de forças ou poderes informantes. São atividades imateriais que, ao agirem sobre a matéria, podem dar origem ao ar, ao fogo, à água ou à terra, como os conhecemos pela experiência comum, mas que, quando aplicadas em outro nível, produzem outros efeitos.
É dessa forma que essas forças, direcionadas à matéria viva e, em particular, ao corpo humano, são transformadas, antes de agir diretamente em suas funções vitais, nos poderes secundários que constituem os humores da tradição hipocrática, ou seja, sangue, bile, pituitária ou linfa e atrabil. Esses humores, assim como os elementos, não são os fluidos vitais que os médicos modernos reconhecem com esses nomes. É um único humor, o mesmo poder vital e imaterial, que se transforma em cada ser humano e assume essas quatro formas em uma proporção diferente a cada vez, e que pode variar de acordo com a idade ou a saúde do indivíduo. Cada idade e cada ser vivo sente a predominância de um determinado estado, que é chamado de temperamento. A saúde perfeita pressupõe que o ciclo de transformação dos humores um no outro não encontre nenhum obstáculo no ser vivo. Uma interrupção constitui e dá origem à doença, ou seja, a predominância exclusiva e prejudicial de um humor que impede a transformação ininterrupta do ciclo.