Bharata – Doutrina

A doutrina.

Entre as escolas por vezes divergentes que fundavam sobre a autoridade de bharata, do «Muni» como se chama frequentemente, a mais compreensiva é aquela dita «do Sabor (do RASA)». Sua doutrina é desenvolvida no Agni-Purana, nos tratados de bhoja, no Dasha-Rupa e sobretudo o Sahitya-Darpana («Espelho da Composição) do qual resumo aqui algumas definições.

O Sabor.

A essência da poesia (aí compreendido o teatro) é o Sabor (RASA). Chama-se Sabor a percepção imediata, por dentro, de um momento ou de um estado particular da existência, provocada pela disposição dos meios de expressão artística. Ela não é nem objeto nem sentimento, nem conceito; ela é uma evidência imediata, uma gustação da vida mesma, uma pura alegria de saborear a sua própria substância em comungando com o outro, o ator ou o poeta. O Sabor se diferencia segundo os estados ou modos de existência (Bhavas) do qual é a percepção «sobrenatural» e desinteressada. Tecnicamente enumera-se oito ou dez «Sabores» nomeados, por metáforas, segundo os sentimentos ou melhor os regimes psico-fisológicos (Bhavas) dos quais elas são noções intuitivas: erótica, cômica, patética, furiosa, heroica, terrífica, repugnante, maravilhosa; mais, em alguns autores, os Sabores calmo e familial. Toda obra poética deve comportar um Sabor dominante; os «Sabores misturados» caracterizam certos gêneros inferiores.

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As Manifestações.

A palavra Bhava (Sentimento, estado geral) designa também o conjunto das Manifestações de cada um destes modos. Há portanto oito ou dez Manifestações permanentes, constantes para uma obra ou por um personagem dado; elas são definidas pelo emprego de tais ou tais meios de expressão (v. em seguida); elas «manifestam» para os olhos e as orelhas o Sabor do poema e a suscitam no espectador. Em segundo lugar, trinta-três Manifestações transitórias exprimem todos os sentimentos de estados psíquicos incidentes que variam e nuançam o Sabor fundamental; enfim oito ou dez manifestações verídicas (como lágrimas, riso, transpiração) exprimem o sentimento dominante quando se tornam bastante forte para submeter o homem a ações fisiológicas que são consideradas, pela convenção cênica, fornecer signos indubitáveis do estado interior do personagem.

Os meios de expressão.

O estado interior do ator é manifestado por quatro meios (abhinayas): gesto, voz, vestimenta e ornamento, expressões corporais. À voz está associada a música e o canto.

Os estilos.

quatro estilos dramáticos (vritti, lit. «jeito, maneira de fazer»): a «maneira verbal» onde a plavra desempenha o principal papel, convindo a assuntos religiosos, aos sentimentos calmos; a «maneira heróica» ou «grandiosa», convindo aos assuntos épicos e guerreiros; a «maneira da cabeleira», maneira graciosa tirando seu nome de um gesto de Vishnu prendendo seus cabelos depois de um combate, convindo aos sentimentos amorosos; e a «maneira violenta» ou «fantástica», onde todas as espécies de artifícios de maquinária são postos em obra, e que convém aos dramas mágicos, aos combates violentos e sobrenaturais.

Classificações

As noções de Sabor, Manifestação, meio de expressão, estilo e outras ainda, foram enumeradas, subdivididas, numeradas, etiquetadas de nomes de divindades e cuidadosamente classificadas pelos teóricos hindus. Estas classificações não têm nenhum valor de lembrete e são particularmente adaptadas ao ensinamento oral. O poeta ou ator que as possui pode assim, de um golpe de vista interior, abarcar todas as possibilidades de seu métier, e todo este saber, em aparência fastidioso e complicado, não tem outra meta senão liberar o artista da pobreza das fantasias individuais.

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