A astrologia constitui uma visão geral e unitária da realidade, em que aspectos particulares e situações do mundo dos astros são considerados na sua relação com o mundo dos homens e em particular com o destino e as vicissitudes dos povos; tais relações não dizem respeito à possível consideração unitária de fenômenos celestes, e de factos e vicissitudes humanas, com uma intenção preponderantemente explicativo-causal, mas justificam também conjecturas sobre acontecimentos futuros e previsões proféticas.
Portanto, parecem ser dois os critérios de fundo a que obedece a complexa combinação de instâncias de conhecimento e de exigências práticas características da astrologia: antes de tudo, a convenção da unidade do cosmos, no qual não é possível separar o céu da terra, o mundo dos astros do mundo terrestre, o mundo superior do inferior; como expressão deste motivo podem recordar-se a afirmação de Aristóteles: «Este mundo encontra-se ligado de forma necessária ao movimento do mundo superior. Cada potência, no nosso mundo, é governada por aqueles movimentos» (Metereológicas, 1, 339a). Mas o mesmo conceito fora expresso, antes de Aristóteles, por Platão que no Timeu havia dado particular destaque aos estritos vínculos que percorrem, no seu conjunto, todo o universo. Nem Platão nem Aristóteles, neste ponto, exprimiam pontos de vista pessoais; quando muito, davam uma tradução conceptual a uma convicção do pensamento grego derivada da tradição oriental. Para a nossa formação moderna, habituada pelo desenvolvimento da mentalidade científica a encarar todos os aspectos da realidade na sua distinção, a consideração unitária do universo transformou-se em pouco mais do que uma simples expressão; mas nas civilizações orientais em seguida na civilização grega e helenística a visão unitária do universo correspondia a uma exigência real de unificação dos conhecimentos e, mais ainda, a um critério de continuidade na consideração da realidade. O segundo critério em que a astrologia se inspira diz respeito mais propriamente ao interesse pelas grandes vicissitudes históricas, a convicção de que elas não são casuais e que cada uma se encontra estritamente ligada à estrutura do universo, cujo conhecimento pode colocar o homem em condições de influir sobre o desenvolvimento do futuro; é uma aspiração prática e ativa que assim se exprime, de participação na formação dos grandes acontecimentos da história, uma forma embrionária e originária de formular a exigência de uma racionalidade da história, de uma resposta dela às aspirações do homem. (Excertos de Mario Del Pra, EINAUDI 18 [EEEE])