CAMINHANTES PELAS TRILHAS DA FILOSOFIA PERENE
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Caminante, son tus huellas el camino, y nada más; caminante, no hay camino, se hace camino al andar, Al andar se hace el camino, y al volver la vista atrás se ve la senda que nunca se ha de volver a pisar. Caminante, no hay camino, sino estelas en el mar. Antonio Machado (1875-1939)
O poema de Antonio Machado diz tudo, não há caminho, não há caminhante, não há caminhar. O que há é apenas andar, e desde este andar se constitui caminhar, caminhante e caminho. Mesmo assim todas as tradições se empenham por ensinar um caminho, apelar àquele que queira ser seu caminhante e convocar um caminhar. Esta página é uma concessão a este afã geral de constituição da tríade caminho, caminhantes e caminhar.
Deus faz de modo que a rede seja sempre lançada no mar deste mundo, e que peixes «de todas espécies aí se reúnem»; ele envia os «numerosos pescadores»: veja tudo que ele põe em obra para a salvação das nações! (Orígenes sobre a PARÁBOLA DA REDE)
O homem está na vida qual caminhante, que no ato de caminhar abre o caminho por onde anda. Abrir caminho significa fazer sua história, instaurar seu destino. Como? Dialogando com o ser, i. é, com a estranha profundidade da existência na qual estamos, que se esquiva ao nosso poder, mas que está sempre aí se revelando, tênue e frágil, impondo-se num apelo insistente, na correspondência à qual se dá a história do espírito. Arcângelo Buzzi
Nesta relação muito sumária, além dos perenialistas de ontem e de hoje, guias da Tradição Perene, alguns inclusive do “caminho sem caminho”, defensores do privilégio à intuição intelectual, ao verdadeiro e tradicional meta-hodos (hodos = caminho; meta = além do), indicam-se também àqueles eventualmente por eles referenciados e outros que são considerados notáveis, especialmente por seus próprios passos na trilha do verdadeiro conhecimento, recolhendo como abelhas na floração da Tradição, aqui e acolá… Vale lembrar, como esclarece Miguel Asin Palacios em seu estudo sobre Ibn Arabi, que a vida espiritual de há muito é considerada como caminho e combate. Citando Santo Agostinho, que a denominava “viagem e caminho” (iter, via), e João Clímaco que a chamava xeniteia (viagem ao estrangeiro), Asin Palacios acentua a dimensão luta, combate da alma contra os vícios, para vencê-los e adquirir as virtudes opostas. Os ascetas cristãos a chamavam por isto de agonisma, como os muçulmanos de mochahada.
Whitall Perry nos oferece inúmeras citações dos caminhantes em seu magnífico Tesouro da Sabedoria Tradicional. Em um dos capítulos dedicado à Peregrinação, nos introduz ao tema apresentando brevemente a noção tradicional de “Caminho”:
Tao pode ser traduzido simplesmente como “Caminho”, assim como no budismo, o Maha-yana é o “Grande Caminho”, e no Hinduísmo o Deva-yana é o “Caminho dos Deuses”, enquanto na cristandade Cristo diz, “Eu sou o Caminho”. No judaísmo, Moisés conduz os israelitas para fora do Egito e mostra o Caminho para a Terra Santa, também no Islã o Profeta conduz o Caminho à Meca. Interiormente este é o “Reto Caminho” (sirat al-mustaqim; a tariqah sufi = Caminho), o “Caminho Estreito” dos Evangelhos, e “Estrada Vermelha” dos Sioux, ou “Santo Caminho” (Shodo) dos japoneses. Todos estes Caminhos alcançam sua confluência no Eixo do Mundo, que une os deferentes estados do ser a sua Fonte incriada. O Caminho pode igualmente ser visto como uma Peregrinação (a Jerusalém, Meca, Lhasa, Benares, Ise), ou como a Demanda (do Santo Graal), do Paraíso Terrestre, da Fonte da Imortalidade ou a Viagem.
Todo o site visa apresentar a Tradição e as tradições, sempre nomeando alguns de seus caminhantes, de modo que a lista é imensa para uma página só. Assim indicam-se abaixo apenas alguns caminhantes “independentes”, como foram os próprios Perenialistas, os quais, embora possivelmente “iniciados” em tradições regulares, mantiveram sua notável capacidade de apreciação e discurso sobre a espiritualidade humana.