Toufy Fahd. Excertos traduzidos por Antonio Carneiro de Génies, anges et démons (LGAD)

« Satã é superior a vosso pai Adão; livrai-vos de vosso torpor, vós gente de pouca honra! Satã é de fogo; Adão, de argila; a argila não pode ter pretensão a excelência do fogo. A argila é tenebrosa, o fogo é luminoso; o fogo é adorado desde que existiu fogo. »

Esses versos satíricos do poeta cego Bashshâr b. Burd (m. 167/783), de descendência iraniana, exprimem um aspecto fundamental da demonologia islâmica, o da rivalidade entre IBLIS e o primeiro homem.

Com efeito, segundo o Corão, a queda de Adão é a contrapartida da queda de IBLIS. Quando Deus decidiu criar o homem, disse aos anjos dos quais IBLIS fazia parte: « Vou criar um homem de argila, de vaso negro infecto; quando o terei harmoniosamente modelado e quando terei insuflado nele meu Espírito, tombai diante dele prosternados. » Todos os anjos se prosternaram, à exceção de IBLIS que recusou de estar com aqueles que se prosternaram. (Alá lhe) disse: « Oh IBLIS, por que não estás com aqueles que se prosternaram? — Não ME prosterno diante um homem que criaste da argila, de vaso negro infecto. — Saia do Paraíso, pois és maldito e a maldição (permanecerá) em ti até o Dia do Julgamento! — Meu Senhor, pediu, conceda-ME um prazo até quando os homens sejam ressuscitados. — Um prazo te é concedido até o tempo fixado. — Meu Senhor, foi porque Tu ME induziste ao erro, eu os seduzirei na terra e os induzirei todos ao erro, salvo os puros dentre tuas criaturas. — É uma via direta (que tomo) para Mim: Tu não tens poder dentre minhas criaturas senão sobre os desviados que te seguirão. »

IBLIS não tardou em se vingar de Adão, causando sua queda e sua expulsão do Paraíso. Não tinha se enganado sobre a fraqueza do homem e sobre sua fragilidade (Cor. 34, 20-21).

A razão alegada para sua recusa reside na inferioridade da matéria pela qual foi criado Adão em relação àquela da qual ele mesmo foi criado. Em verdade, o Nobre Alcorão não nos diz diretamente de qual matéria foi criado; mas, nos diz que IBLIS era um djinn (gênio) (18, 50) e que os djinns (gênios) foram criados por uma língua de fogo ou de um fogo muito ardente.

Segundo Ibn ‘Abbâs, IBLIS pertencia a uma divisão de tribo de anjos chamados “aj-jinn”, criados do fogo muito ardente, enquanto que os outros anjos foram criados de luz, os djinns (gênios) de uma língua de fogo e o homem de argila. IBLIS se chamava Al-Hârith e era um dos guardiões do Paraíso. Os primeiros habitantes da terra foram os djinns (gênios); nela introduziram a corrupção, derramaram sangue e se mataram uns aos outros. Alá lhes enviou IBLIS à cabeça de um exército de anjos que não são outros senão aqueles chamados “aj-jinn”; eles os combateram e os fizeram recuar para as ilhas dos mares e os topos das montanhas. Após sua vitória, IBLIS se orgulhou e disse para si: « Consegui alguma coisa que nenhum outro pôde fazer. » Deus conheceu o segredo de seu coração, mas os anjos que o acompanhavam não tiveram conhecimento.

Mas, Ibn Mas’ûd emite uma opinião diferente: Os anjos combateram os djinns (gênios); foi quando fizeram IBLIS prisioneiro; ele era ainda muito jovem. Ele adorava Deus com os anjos; mas, quando lhes foi ordenado para se prosternar diante Adão, ele se recusou a segui-los.

A transformação de IBLIS em shaytân (Satã) é devida à sua desobediência; todo djinn (gênio) que desobedeceu tornou-se shaytân (Satã); esse último é da descendência de IBLIS.