Símbolos de alternância e funcionamento — funcionamento por alternância: há muito mais a se ponderar sobre esses motivos durante a leitura de Wang Fuzhi. Nem a “parede”, cuja opacidade contínua não pode ser aberta, nem o “buraco” na parede que, sempre aberto, não pode ser fechado: o modelo concreto que inspira a reflexão aqui é antes o da porta, que às vezes está aberta e às vezes fechada, que pode fechar porque estava aberta e vice-versa9. Quer esteja aberta ou fechada, a porta sempre cumpre seu objetivo; não apenas a passagem de um estágio a outro é útil a cada vez, dependendo das exigências do momento, mas a reciprocidade que condiciona a mudança torna essa operação sempre inesgotável: é a própria possibilidade desse curso, renovando-se constantemente, que constituirá o “Caminho” (o Dao) — que está no coração do processo.
Ou ainda: a alternância de concentração e dispersão da energia material dentro da latência original é semelhante à da água, que às vezes se condensa em um bloco de gelo completamente compacto, às vezes derrete e se dilui na massa circundante: ao derreter e desaparecer de vista, não desaparece por completo; o que consideramos vazio nunca é puro nada. Essa é a mesma água que congela sob o efeito do frio, mas ferve sob o efeito do calor, fica parada de um lado e se move do outro. A diferença de estado não pode esconder a constância do próprio elemento: tudo se transforma e nada se anula. Nada se perde, tudo retorna ao elementar, mas a transformação ocorre de forma tão sutil e fina — beirando o invisível — que muitas vezes não percebemos que esse nada ainda é algo. Se você ferver água, o vapor sobe e se dissipa — você acha que não sabe onde? Mas tudo o que você precisa fazer é cobri-la com uma tampa e o vapor se acumula e não se dispersa mais. O que parecia ter desaparecido para sempre só agora está retornando.
Quer congele em água ou ferva em espuma, essa água nunca pode ter nada a ver com isso; é pura necessidade natural: da mesma forma, a vida e a morte — a alternância do visível e do latente — não podem ser o resultado de nenhuma intenção. Nem desígnio maligno nem Providência. Todo o espetáculo da natureza — e em primeiro lugar o do céu — só nos torna mais sensíveis ao que se manifesta como um contraste: a limpidez que é espontaneamente transparente e infinita, ou a escuridão nascida do ecran (assim que a névoa aparece). A alternância em ação faz com que toda a realidade vibre nesse modo duplo: sutileza / reificação, fluidez / densidade, transparência (de passagem) / opacidade (de obstáculo). Mas a natureza também nos deixa claro que qualquer concentração particular que dê origem à atualização do visível permanece fugaz e dispersa: o compacto permanece arejado, a limpidez coexiste com a densidade e continua a exercer sua função de passagem: como o vento que penetra pela menor abertura, como a nota musical que se espalha por toda parte.