Um dia, Mahmud chamou seu favorito, entregou-lhe a coroa, fê-lo sentar-se no trono e disse-lhe:
“Ayaz, dou-te meu reino e meu exército. Reina, que este país é teu; agora desejo que tomes o meu lugar e atires o teu brinco de escravo à Lua e ao Peixe”.
Quando os oficiais e cortesãos souberam disso, seus olhos se enegreceram de inveja e eles disseram:
“Nunca, no mundo, concedeu um rei tanta honra a um escravo”.
Mas Ayaz chorou, e eles o interpelaram:
“Perdeste o juízo? Já não és escravo, agora pertences à realeza. Por que choras? Alegra-te!”
Ayaz retrucou:
“Não vedes as coisas como elas são, não compreendeis que o sultão deste grande país me exilou da sua presença. Ele me quer governando o seu reino, mas eu não quero separar-me dele. Quero obedecer-lhe, mas não quero deixá-lo. Que me importam governos e realezas? Minha felicidade está em contemplar-lhe o rosto”.
Aprende com Ayaz a servir a Deus, ó tu que te deixas ficar ocioso dia e noite, ocupado em prazeres baratos e vulgares. Ayaz desce do pináculo do poder, mas tu não te moves do sítio em que estás e tampouco tens desejo de mudar. A quem poderás, afinal, confidenciar tuas mágoas? Enquanto dependeres do paraíso e do inferno, como compreenderás o segredo que desejo revelar-te? Mas quando já não dependeres dos dois, o amanhecer do mistério se erguerá da noite. Além disso, o jardim do paraíso não se destina ao indiferente; e o empíreo é só para os homens de coração.