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P: O que você diz ME lembra o dharmakaya do Buda. — M: Talvez. Não precisamos nos preocupar com a terminologia. Apenas veja a pessoa que você imagina ser como parte do mundo que percebe dentro da mente e olhe para a mente desde fora, pois você não é a mente. Afinal de contas, seu único problema é a ansiosa autoidentificação com o que quer que você perceba. Abandone esse hábito, lembre-se de que você não é o que percebe, use seu poder de distanciamento alerta. Veja-se em tudo o que vive e seu comportamento expressará sua visão. Quando perceber que não há nada neste mundo que você possa chamar de seu, olhe para ele de fora, como olha para uma peça no palco ou para uma imagem na tela, admirando e apreciando, mas realmente não se comovendo. Enquanto você se imaginar como algo tangível e sólido, uma coisa entre as coisas, realmente existente no tempo e no espaço, de vida curta e vulnerável, naturalmente estará ansioso para sobreviver e crescer. Mas quando você se conhecer como algo além do espaço e do tempo — em contato com eles apenas no ponto do aqui e agora, de outra forma onipresente e abrangente, inacessível, inatacável, invulnerável — você não terá mais medo. Conheça-se como você é — contra o medo não há outro remédio. Você precisa aprender a pensar e sentir dessa forma, ou permanecerá indefinidamente no nível pessoal do desejo e do medo, ganhando e perdendo, crescendo e decaindo. Um problema pessoal não pode ser resolvido em seu próprio nível. O próprio desejo de viver é o mensageiro da morte, assim como o desejo de ser feliz é o esboço da tristeza. O mundo é um oceano de dor e medo, de angústia e desespero. Os prazeres são como os peixes, poucos e rápidos, raramente vêm e rapidamente se vão. Um homem de pouca inteligência acredita, contra todas as evidências, que ele é uma exceção e que o mundo lhe deve felicidade. Mas o mundo não pode dar o que não tem; irreal até o âmago, ele não serve para a felicidade real. Não pode ser de outra forma. Buscamos o real porque estamos infelizes com o irreal. A felicidade é nossa natureza real e nunca descansaremos até encontrá-la. Mas raramente sabemos onde buscá-la. Depois de entender que o mundo é apenas uma visão equivocada da realidade e que não é o que parece ser, você estará livre de suas obsessões. Somente o que é compatível com seu ser real pode fazê-lo feliz, e o mundo, como você o percebe, é sua negação absoluta. Fique bem quieto e observe o que vem à tona na mente. Rejeite o conhecido, dê as boas-vindas ao até então desconhecido e rejeite-o por sua vez. Assim, você chega a um estado no qual não há conhecimento, apenas ser, no qual o próprio ser é conhecimento. Conhecer pelo ser é conhecimento direto. Ele se baseia na identidade de quem vê e de quem é visto. O conhecimento indireto baseia-se na sensação e na memória, na proximidade do percebedor e de sua percepção, confinado com o contraste entre os dois. O mesmo acontece com a felicidade. Normalmente, é preciso estar triste para conhecer a alegria e feliz para conhecer a tristeza. A verdadeira felicidade não tem causa e não pode desaparecer por falta de estímulo. Ela não é o oposto da tristeza, mas inclui toda tristeza e sofrimento. [EU SOU AQUILO, Capítulo 94]