GEENA
Gehena, Gehinon
VIDE
Diccionario expositivo de palabras del Antiguo Testamento
Edición Merrill F. Unger y William White (Traducido y revisado por Guillermo Cook)
geenna (1067) representa el término hebreo Ge-Hinnom (el valle de Tofet) y una palabra aramea correspondiente. Se encuentra doce veces en el NT, once de ellas en los Evangelios Sinópticos, y en cada caso es mencionado por el mismo Señor. El que le diga a su hermano, fatuo (véase bajo INSENSATO), quedará expuesto «al infierno de fuego» (Mt 5.22); es mejor arrancar (descripción metafórica de una ley irrevocable) un ojo que haga caer a su poseedor, que no que «todo su cuerpo sea echado al infierno» (v. 29); similarmente con la mano (v. 30). En Mt 18.8,9 se repiten las amonestaciones, con una mención adicional al pie. Aquí, también la advertencia va dirigida a la persona misma, a la que se refiere evidentemente el término «cuerpo» en el cap. 5. En el v. 8, «el fuego eterno» es mencionado como la condenación, dándose el carácter de la región por la misma región, quedando ambos aspectos combinados en la frase «el infierno de fuego» (v. 9). El pasaje de Mc 9.43-47 es paralelo al de Mt 18. En este se añaden descripciones más extensas, como «fuego que no puede ser apagado» y «donde el gusano de ellos no muere, y el fuego nunca se apaga».
El hecho de que Dios «después de haber quitado la vida, tiene poder de echar en el infierno», constituye una razón para que se le tema con el temor que preserva del mal hacer (Lc 12.5); el pasaje paralelo a este en Mt 10.28 declara, no el arrojamiento adentro, sino la pérdida que sigue, esto es, la destrucción (no la pérdida del ser, sino del bienestar) del «alma y el cuerpo en el infierno».
En Mt 23 el Señor denuncia a los escribas y fariseos, que, al proselitizar a alguien, lo hacían «dos veces más hijos del infierno» que ellos mismos (v. 15), siendo esta frase expresiva de carácter moral, y anuncia la imposibilidad de que escapen «de la condenación del infierno» (v. 33). En Stg 3.6 se describe el infierno como la fuente del mal hecho por el mal uso de la lengua. Aquí la palabra significa los poderes de las tinieblas, cuyas características y destino son los del infierno.
Para términos descriptivos del infierno, véanse, p.ej., Mt 13.42; 25.46; Flp 3.19; 2 Ts 1.9; Heb 10.39; 2 P 2.17; Jud 13; Ap 2.11; 19.20; 20.6, 10, 14; 21.8.
Hassidismo
Reb Zalman Schachter
Excertos de “Fragmentos de um futuro pergaminho”
A morte não assustava o judeu piedoso de antigamente. Ele tinha fé no Talmud e em suas afirmativas de que a morte é a transição de uma vida para outra, tão fácil quanto se tirar um fio de cabelo do leite. O que o judeu queria acima de tudo era morrer totalmente consciente, em total posse de sua mente na hora que sua alma deixasse seu corpo. Cenas do leito de morte abundam na literatura chassídica e eram as favoritas para serem recontadas nos círculos chassídicos.
Os hassidim frequentemente se preparavam para a morte aconselhando-se com o Rebbe acerca do que deveriam meditar sobre, no momento de seus falecimentos. Eles acreditavam que poderiam servir ao mesmo Deus Único em muitos mundos e antecipavam até o Gehinon como um lugar de serviço. A ideia judaica do Gehinon não é a de inferno mas de um purgatório onde a alma é purificada de toda a poluição acumulada durante sua vida na terra. Rav Zushia de Anipol disse uma vez que se Deus ordenasse que fosse para o Gehinon ele arregaçaria as mangas e pularia de alegria para cumprir o comando divino.
A alma que se tornou total e completamente identificada com o corpo através da indulgência sensual é incapaz de se separar dele. Acompanhar o corpo até o seu lugar de descanso final e testemunhar a putrefação e decadência é doloroso para tais almas. Isso é o que se chama de Hibut Ha’quever, a dor e a angústia do túmulo. A fim de destruir a identificação ilusória da alma com o corpo e evitar tal dor, muitos hassidim se preparam durante a vida na terra através de práticas ascéticas. Almas exaltadas podem alcançar o mesmo fim pela reza ou a meditação. Elas se tornam desligadas de seu corpo físico e do que as cerca.
Se a alma não consegue se livrar de suas imagens e desejos terrenos, seu “pó”, ela é forçada a vagar presa à terra por muitas eras, no limbo, num mundo vazio. Numa estória chassídica, uma alma perdida que já havia vagado por centenas de anos em tal vácuo grita: “Quisera eu já ter atingido Gehena!”
Para atingir Gehena a alma já deve estar purificada da ilusão. O purgatório foi frequentemente descrito em detalhes físicos lúridos de fogo e frio. Entretanto, os Rebbes alertam contra o erro de se ver Gehena como uma entidade material. É mais como a dor da ansiedade, intensificada pelo silêncio e uma profunda consciência do mal cometido. Segundo a tradição, Gehena é esvaziada no Shabat, o que levou à interpretações de que esse recurso só é garantido aos que observam o Shabat nesta vida. Outros discordam, dizendo que a Gehena é esvaziada para todos. Se não fosse pela graça e luz semanais que o Shabat provê, a alma não aguentaria a angústia da Gehena.
Roberto Pla
Geena é o nome aramaico do Vale de ben Hinon. Alude ao vale deste nome situado próximo de Jerusalém. no qual sob o reinado de Acaz e Manassés, os judeus haviam imolado seus filhos nos braseiros (Tofete) em honra do ídolo Moloch. Josias declarou impuro este lugar e ordenou que se jogassem ali todas as imundícies, inclusive cadáveres, etc… Esta prática se continuou, razão pela qual esse Vale veio a ser a latrina e cloaca de Jerusalém. O fogo permanente consumia aquelas imundícies e os profetas, especialmente, Isaías e Jeremias tomaram este nome como “figura” do Seol.
A geena dos evangelhos é uma confluência dos Seol e do Hades com a tradição do relato dos sacrifícios humanos de crianças queimadas em honra de Moloch, ocorridos no Vale de bem Hinon. O profeta Jeremias dedica a estes sacrifícios um de seus mais belos poemas elegíacos (Jr 7,29 — 8,3; 19,3-9).
Em sua vertente histórica e por sua vigência no tempo de Jesus, a geena é o Forno (o Tofete) onde foram queimados os corpos do sacrifício, e também o queimadouro permanente das imundícies residuais da cidade de Jerusalém. Neste sentido, a geena serve para descrever, com grande força dramática, um fogo visível, não eterno, para uns corpos hílicos, perecedeiros, que nele podem ser imolados como castigo.
Em sua vertente testamentária, a geena é cópia do Hades invisível nele que um fogo eterno, invisível e purificador, atua sobre as almas até que estas lancem fora “o verme que nunca morre”. As similitudes desta vertente da geena com o Hades são grandes. O lago fervente do Hades, aparece como um Forno, e o enxofre regenerador das almas que serve para acender o fogo do lago, se converte no sal que dá consistência interior ao fogo do conhecimento que não cessa, na geena.
Como se vê, em nenhuma das referências à geena aparece uma declaração que afirme ou sugira a duração eterna da geena, salvo que se interprete como eternidade do lugar o que ali arde, e que é o fogo invisível que por ser o Espírito de Deus, não foi criado, nem há de se apagar. Quanto ao fogo visível, o do Forno, não é eterno senão facilmente extinguível.
Com tudo isso há motivos para se perguntar como pode ser que durante tantos séculos, a exegese manifesta cristã, com tantos varões sábios e virtuosos, não tenha pensado em discernir a diferença que vai da eternidade do fogo invisível, ao caráter necessariamente transitório de um lugar criado, onde se mantém um fogo visível natural, que não se refere às almas senão aos corpos?
Inclusive o “símbolo atanasiano”, que assenta magistério, não consegue dizer o que talvez pretende segundo a exegese manifesta, se é que pretende afirmar um Inferno eterno, pois diz: “E os que obraram bem irão à vida eterna, e os que mal ao fogo eterno”. O que isso significa “realmente” é o que segue: “os que (obraram) mal (irão)” à purificação com o fogo do Espírito, que é eterno, até ser devolvidos à ressurreição e a Vida.
Neste sentido, resulta importante revisar alguns dos textos escriturários que a exegese manifesta considerou decisivos para fundamentar o dogma da existência e eternidade do Inferno de condenação eterna: Eternidade do Inferno AT e Eternidade do Inferno NT.