René Guénon — O Homem e seu Devir segundo o Vedanta
O CENTRO VITAL DO SER HUMANO, MORADA DE BRAHMA
O Si Mesmo não deve ser distinguido de atman, que se identifica a Brahma mesmo: trata-se da «Identidade Suprema», mencionada no esoterismo islâmico. Esta identidade se opera pelo Ioga. Esta realização não é uma «efetuação» nem «a produção de um resultado preexistente», na expressão de Sankara. Trata-se de uma tomada de consciência do que é realmente e por toda eternidade.
É Brahma quem reside no centro vital do ser humano. Este centro vital corresponde analogicamente ao menor ventrículo (guha) do coração (hridaya) (não confundir com o coração no sentido ordinário). Os gregos, e Aristóteles em particular, atribuíam ao coração a sede da inteligência. O Cérebro é verdadeiramente o instrumento da «mente», do pensamento em modo reflexivo e discursivo. Assim o coração corresponde ao sol e o cérebro à lua.
«Nesta morada de Brahma (Brahma-pura) há um pequeno lótus, onde uma pequena cavidade ocupada pelo Éter (akasha); se deve buscar O que está neste lugar, e se O conhecerá» (Chandogya Upanixade). Citando este entre os Upanixades, Guénon ainda recorda a parábola da Semente de Mostarda para enfatizar à pequenez do Reino dos Céus e seu crescimento enqaunto deslumbrante árvore onde os pássaros do céu vêm pousar-se. Guénon também recorre ao ao Mundaka Upanixade, citando os dois pássaros companheiros que residem sobre uma mesma árvore, enquanto um contempla e o outro come. Concluindo, Guénon enfatiza a importância da União para a realização do Si Mesmo em potencialidade no indivíduo.
O que reside no centro vital, do ponto de vista físico é o Éter; do ponto de vista psíquico é a «alma viva»; do ponto de vista metafísico, é o «Si Mesmo» principial e incondicionado. Por conseguinte, é verdadeiramente o «Espírito Universal» (atman) que é em realidade Brahma mesmo, o Supremo Ordenador, e assim este centro se designa como Brahma-pura. Brahama assim considerado é chamado Purusha, porque repousa ou habita na individualidade integral como em uma cidade.
No centro vital, residência de Purusha, «o sol não brilha, nem a lua, nem as estrelas, nem os relâmpagos; muito menos este fogo visível. Tudo brilha segundo a irradiação de Purusha; é por seu esplendor pelo que este todo é iluminado» (Katha Upanixade). Guénon busca ainda analogias com citações do Bhagavad Gita e até do Apocalipse de João, concluindo com Ibn Arabi e referências ao Tratado da Unidade.