Schuon (STRP) – Escatologia Universal

A escatologia faz parte da cosmologia, e a cosmologia é uma extensão da metafísica, que é essencialmente identificada com a sophia perennis. Pode-se perguntar qual o direito que a escatologia tem de fazer parte dessa sophia, já que, epistemologicamente falando, a pura intelecção não parece revelar nossos destinos além-túmulo, embora revele princípios universais; mas, na realidade, o conhecimento desses destinos é acessível por meio do conhecimento dos princípios ou de sua aplicação correta. De fato, é por meio da compreensão da natureza profunda da subjetividade, e não exclusivamente por essa via externa que é a Revelação, que podemos conhecer a imortalidade da alma, porque quando falamos de subjetividade total ou central — e não de subjetividade parcial e periférica como a dos animais — também nos referimos à capacidade de objetividade, à intuição do Absoluto e à imortalidade. E dizer que somos imortais significa que já existíamos antes de nosso nascimento humano — pois aquilo que não tem fim não pode ter um começo — e, além disso, que estamos sujeitos a ciclos; a vida é um ciclo, e nossa existência anterior também deve ter sido um ciclo em uma cadeia de ciclos. Nossa existência posterior também pode prosseguir em ciclos, o que significa que ela está fadada a isso se não tivermos sido capazes de perceber a razão de ser do estado humano, que, sendo central, torna possível precisamente escapar da “rodada de existências”.

A condição humana é, de fato, a porta de entrada para o Paraíso: para o Centro cósmico, que, embora faça parte do Universo manifesto, está — graças à proximidade magnética do Sol divino — além da rotação de mundos e destinos e, portanto, além da “transmigração”. E é por isso que, de acordo com um texto hindu, “o nascimento humano é difícil de ser alcançado”; para nos convencermos disso, basta considerarmos a incomensurabilidade entre o ponto central e os inúmeros pontos da periferia.

Frithjof Schuon