Ascensão com o Anjo

(PLW1980)

Platão no Simpósio novamente:

“Esta é a maneira correta de abordar ou ser iniciado nos mistérios do amor, começar com exemplos de beleza neste mundo e usá-los como degraus para ascender continuamente tendo aquela beleza absoluta como objetivo, de um exemplo de beleza física para dois e de dois para todos, então da beleza física para a beleza moral, e da beleza moral para a beleza do conhecimento, até que do conhecimento de vários tipos se chegue ao conhecimento supremo cujo único objeto é aquela beleza absoluta, e se saiba finalmente o que é a beleza absoluta.”

Com estas palavras, Platão se posiciona fortemente contra todo o “pessimismo cósmico” e o ascetismo dualista. Para ele, a beleza do cosmos se reflete em todas as coisas belas, e a alma sobe uma escada de amor para a realização do absoluto.

No entanto, a tradição platônica parece possuir um indício de dualismo (mais desenvolvido em filósofos posteriores, especialmente platônicos cristãos como Agostinho). O mundo físico, apesar de toda a sua importância como símbolo e apesar de sua unidade final com o Princípio Supremo, ainda permanece algo do qual se deve escapar. Mesmo na citação acima, o amante sobe além de sua primeira apreciação da beleza da natureza ou do amado, e alcança o reino das Ideias puras — mas não retorna.

Para Platão, o mundo sensível serve como uma “excitação”, provocando o Intelecto em direção à lembrança do conhecimento causado na alma pelas Ideias. Ao transformar as Ideias em Anjos, no entanto, um papel maior é dado ao mundo sensível. Viajar com o Anjo significa transmutar o sensível em símbolos, de tal forma que voltar-se para o sensível é voltar-se para o Anjo.

Este conceito parece completar o esquema platônico ao permitir um retorno da contemplação dos arquétipos para uma contemplação do mundo — um mundo agora purificado de toda “mundanidade”. Acima de todas as coisas, a forma humana serve como um objeto de tal contemplação, já que o homem é feito à “imagem” de Deus e é, portanto, o mais digno de amor. Pode-se dizer deste ponto de vista que amar um belo amado não é o começo, mas o fim do caminho Angélico — com a condição de que se entenda quem ama e quem é amado.

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