Conferência dos Pássaros — O ROUXINOL
O Rouxinol
O amoroso rouxinol foi o primeiro a adiantar-se, quase fora de si de paixão. Cada uma das mil notas do seu cantar extravasava emoção; e cada qual encerrava um mundo de segredos. Quando ele cantava esses mistérios, os pássaros silenciavam.
— Conheço os segredos do amor — disse. — Repito a noite inteira meus cantos amorosos. Não haverá um Davi infeliz para quem eu possa cantar os salmos ansiosos de amor? Por minha causa emite a flauta seus meigos queixumes e o alaúde, seus lamentos. Quando o amor me subjuga o coração, meu canto é como o suspiroso mar. Tão apaixonado estou pela Rosa que nem penso na minha própria existência, mas apenas na Rosa e no coral das suas pétalas. A jornada em demanda do Simurgh está acima das minhas forças; o amor da Rosa basta ao Rouxinol. É para mim que ela floresce com suas cem pétalas; que mais, portanto, posso desejar?
A Poupa replicou:
— Ó Rouxinol, tu, que serias capaz de ficar para trás, deslumbrado pela forma exterior das coisas, não te deleites mais com um apego tão ilusório. O amor da Rosa tem muitos espinhos; ela te perturbou e dominou. Embora seja bela, sua beleza logo se esvai. Quem procura a própria perfeição não deve deixar-se escravizar por um amor tão fugaz. Abandona a Rosa e cora por ti mesmo: pois ela se ri de ti a cada nova primavera e depois já não sorri.