Se não podes fazer nada, não busques, pois, nada; tudo o que dizes não faz falta; não digas, pois, nada. O que dizes e o que sabes, eis o que és. Conhecer a si mesmo é existir cem vezes. Porém, deves conhecer Deus por Ele mesmo e não por ti. É Ele quem abre o caminho que conduz a Ele, e não a sabedoria humana. O conhecimento d’Ele não está ao alcance dos retóricos; o homem que possui energia e o que está desprovido dela são incapazes de alcançá-Lo.
Machado & Rizek
Ó Tu que estás no interior e no exterior da alma! Tu não és e és tudo o que digo. Em Teu reino a razão tem vertigens, perde o fio que deve dirigi-la em Tua via. Vejo claramente todo o universo em Ti e, no entanto, não Te percebo em absoluto no mundo. Todos os seres estão marcados com Teu selo, porém visivelmente não há nenhum selo Teu. Reservaste a Ti o segredo de Tua existência. Por mais olhos que tivesse, o firmamento não poderia perceber nem um átomo da poeira da trilha que conduz a Ti. Ainda que, de dor, a Terra tenha coberto a cabeça de poeira, tampouco ela viu essa poeira. O sol perdeu a razão por amor a Ti, e a cada noite esfrega a cabeça na terra. Por sua vez, a lua se funde; a cada lua (mês) ela se desvanece de admiração. O Oceano, elevando suas ondas para proclamar Teu sal (Tua glória), teve seu manto molhado e os lábios secos. A montanha (koh) colocou-se cem vezes no caminho que conduz a Ti, mas tinha o pé fundido na terra úmida como uma fibra de palha (kah). Por causa de Teu amor o fogo se acendeu; e se tão alto se elevou, é porque pisa em brasas. Sem Ti o vento não tem pé nem cabeça, tem pó no oco da mão e mede o ar. Enquanto a água tem água (honra) no coração, permanece aquém de Teu amor. Tenho permanecido à Tua porta como a poeira do caminho, com cinza e pó sobre a cabeça.
Que dizer ainda, se não podes ser descrito? Como descrever-Te se não Te conheço?
Ó meu coração! se queres abordar o noviciado desse conhecimento, entra na via espiritual; olha para frente e para trás, caminha com circunspecção. Mira-te no exemplo dos adeptos que chegaram a essa corte: sustentam-se uns aos outros nessa via. Para cada átomo há uma porta diferente, e de cada átomo abre-se um caminho diferente que conduz ao Ser misterioso de que falo. Que sabes, para ir por tal via e para chegar a essa porta por um tal caminho? Quando queres ver manifestamente este ser, Ele está escondido; quando O desejas escondido, Ele está manifesto. Enfim, se queres encontrar, visível ou invisível, este ser sem par, sabe que Ele não é nem um nem outro. Se não podes fazer nada, não busques, pois, nada; tudo o que dizes não faz falta; não digas, pois, nada. O que dizes e o que sabes, eis o que és. Conhecer a si mesmo é existir cem vezes. Porém, deves conhecer Deus por Ele mesmo e não por ti. É Ele quem abre o caminho que conduz a Ele, e não a sabedoria humana. O conhecimento d’Ele não está ao alcance dos retóricos; o homem que possui energia e o que está desprovido dela são incapazes de alcançá-Lo. Ciência e ignorância são aqui a mesma coisa, pois este Ser não se pode explicar nem descrever. As opiniões dos homens a esse respeito nascem somente de sua imaginação, e é absurdo tentar deduzir qualquer coisa do que dizem; quer se expressem bem ou mal, o que dizem a esse respeito, dizem-no por eles mesmos. Deus está acima da ciência e além da evidência, pois nada pode dar-nos uma ideia de Sua Santa Majestade. De Seu rastro ninguém encontrou mais que ausência de rastro; ninguém encontrou outro partido a tomar senão abandonar-se a Ele. Todo homem, quer tenha sangue frio quer esteja fora de si, não tem outra coisa a fazer senão reconhecer o Deus da revelação. Os mais ínfimos seres dos dois mundos não são mais que produto de tuas conjecturas. Afora Deus, tudo o que sabes não é mais que o resultado de tuas próprias concepções. A palavra imperfeição não pode alcançar a altura que Ele habita. Como chegará a alma humana aonde Ele está? Ele está mil vezes acima da alma, muito acima do que possa ser dito. A razão permanece incapacitada em seu amor apaixonado por Ele; a inteligência está desconcertada, a alma desolada, o coração ensanguentado por seu próprio sangue!
Ó tu que aprecias a verdade! não busques analogia nisto; a existência deste Ser sem igual não admite nenhuma analogia. Sua glória abateu a inteligência e a razão; uma e outra estão numa indizível estupefação. Nem os profetas nem os mensageiros celestes compreenderam a mais mínima partícula do todo, e então, em sua impotência, curvaram-se sobre o pó, dizendo: “Nós não Te conhecemos como deves verdadeiramente ser”. Quem sou, pois, para vangloriar-me de conhecê-Lo? Aquele que O conheceu não buscou conhecê-Lo senão através d’Ele. Como não há outro ser exceto Ele nos dois mundos, com quem, senão com Ele, se poderá estar em relação de afeto e de amor? O Oceano agita suas ondas para proclamar Sua essência, mas tu não compreendes esse discurso e ficas na incerteza. Aquele que não sabe encontrar Sua essência neste Oceano deixa de existir, pois não encontra outra coisa senão negação e nada. Não fales deste Ser enquanto Ele não se manifestar alegoricamente a ti; não digas nada sobre Ele enquanto Ele não se mostrar a ti por símbolos. É verdade que nenhuma alegoria e nenhuma explicação pode dar-nos uma ideia justa d’Ele; ninguém O conhece e ninguém encontrou Seu rastro. Aniquila-te!, eis aqui tudo, tal é a perfeição. Renuncia a ti mesmo; este é o penhor de tua união com Ele. Perde-te n’Ele para “penetrar” esse mistério, tudo o mais é supérfluo. Caminha na unidade e mantém distância da dualidade; não tenhas mais que um coração, uma face, uma qibla.
Garcin de Tassy
O toi qui es dans l’intérieur et dans l’extérieur de l’âme ! tu n’es pas et tu es tout ce que je dis. A ta cour, la raison a le vertige ; elle perd le fil qui doit la diriger dans ta voie. Je vois clairement tout l’univers en toi, et cependant je ne l’aperçois pas du tout dans le monde. Tous les êtres sont marqués de ton empreinte, mais il n’y a visiblement aucune empreinte de toi. Tu t’es réservé le secret de ton existence. Quelque quantité d’yeux qu’ait ouverts le firmament, il n’a pu apercevoir un atome de poussière du sentier qui conduit à toi. La terre non plus n’a pas vu cette poussière, bien que, de douleur, elle ait couvert sa tête de poussière. Le soleil a perdu la raison par amour pour toi, et chaque nuit il frotte son oreille sur la terre. La lune se fond de son côté à cause de ton amour ; chaque lune, elle s’évanouit dans son étonnement. L’Océan, ayant élevé ses vagues pour proclamer ta gloire, a eu sa robe mouillée et ses lèvres sèches. La montagne est restée cent fois sur le chemin qui conduit à toi, le pied profondément enfoncé dans la terre humide comme un brin de paille. A cause de ton amour, le feu s’est enflammé, et, s’il s’est élevé si haut, c’est qu’il a le pied dans le feu. Sans toi, le vent n’a ni tête ni pied ; il a de la poussière dans le creux de sa main et il mesure l’air. Tant que l’eau a de l’eau dans le cœur, elle reste en arrière de ton amour. Je suis demeuré à ta porte, comme la poussière du chemin, avec de la cendre et de la poussière sur la tête.
Que dirai-je encore, puisque tu ne saurais être décrit ? Pourrais-je d’ailleurs te décrire, puisque je ne te connais pas ? O mon cœur ! si tu veux aborder le noviciat de cette connaissance, entre dans la voie spirituelle ; regarde devant et derrière, marche avec circonspection. Vois les adeptes qui sont arrivés à cette cour ; ils se sont soutenus les uns les autres dans cette voie. Pour chaque atome, il y a une porte différente, et de chaque atome s’ouvre un chemin différent qui conduit à l’être mystérieux dont je parle. Que sais-tu, pour marcher dans une telle route et pour parvenir à cette porte par un tel chemin ? Lorsque tu voudrais voir manifestement cet être, il est caché ; si tu le désires caché, il est manifeste. Enfin, si tu veux trouver cet être non pareil visible et invisible à la fois, alors il n’est ni l’un ni l’autre. Tu n’as rien pu faire, ne cherche donc plus rien ; tout ce que tu dis n’est pas ce qu’il faut, ne dis donc rien. Ce que tu dis et ce que tu sais, c’est ce que tu es. Se connaître soi-même, c’est exister cent fois. Mais tu dois connaître Dieu par lui-même, et non par toi ; c’est lui qui ouvre le chemin qui conduit à lui, et non la sagesse humaine. Sa description n’est pas à la portée des rhétoriciens ; l’homme qui a de l’énergie et celui qui en est dépourvu sont incapables de la tracer. La science ou l’ignorance sont ici la même chose, car cet être ne peut s’expliquer ni se décrire. Les opinions des hommes à ce sujet ne sont que le produit de leur imagination ; il est absurde de vouloir les déduire. Qu’ils s’expriment bien ou mal, ce qu’ils en ont dit, ils l’ont dit d’eux-mêmes. Dieu est en effet au-dessus de la science et au-dessus de l’évidence, car rien ne peut donner une idée de sa sainte majesté. De sa trace, personne n’a trouvé que l’absence de trace ; personne n’a trouvé d’autre parti à prendre que de s’abandonner à lui. Tout homme, qu’il soit de sang-froid ou hors de soi, n’a pas autre chose à faire que de reconnaître le Dieu de la révélation. Les êtres atomiques des deux mondes ne sont que le produit de tes conjectures. Tout ce que tu sais, hors Dieu, n’est que le résultat de tes propres conceptions. Le mot imperfection ne peut atteindre la hauteur où il réside, et comment une âme humaine parviendra-t-elle où il est ? Il est mille fois au-dessus de l’âme, il est bien au-dessus de tout ce que je peux dire. La raison reste interdite dans son amour passionné pour lui ; l’esprit est déconcerté. Quoi ! l’âme est désolée à son sujet, le cœur est ensanglanté par son propre sang !
O toi qui apprécies la vérité ! ne cherche pas d’analogie en ceci, car l’existence de l’être sans pareil n’admet pas d’analogie. Sa gloire a jeté dans l’abattement l’esprit et la raison ; ils sont l’un et l’autre dans une indicible stupéfaction. Comme aucun des prophètes et des messagers célestes n’a compris la moindre parcelle du tout, ils ont, dans leur impuissance, courbé leur front sur la poussière, en disant : « Nous ne t’avons pas connu comme tu dois l’être. » Que suis-je donc pour me flatter de le connaître ? Celui-là l’a connu, qui n’a cherché à le connaître que par lui. Comme il n’y a pas d’autre être que lui dans les deux mondes, avec qui, si ce n’est avec lui, pourra-t-on être en rapport d’affection et d’amour ? L’Océan agite ses flots pour proclamer son essence ; mais tu ne comprends pas ce discours et tu restes dans l’incertitude. Celui qui ne sait pas trouver dans cet Océan l’essence dont il s’agit cesse d’exister, car il ne trouve autre chose que néant et négation. Ne parle pas de cet être lorsqu’il ne se manifeste pas allégoriquement à toi ; n’en dis rien lorsqu’il ne se montre pas à toi par des emblèmes. Il est vrai qu’aucune allégorie ni aucune explication ne peuvent en donner une juste idée ; personne ne le connaît ni n’en a trouvé la trace. Anéantis-toi ; telle est la perfection, et voilà tout. Renonce à toi-même ; c’est le gage de ton union avec lui, et voilà tout. Perds-toi en lui pour pénétrer ce mystère ; toute autre chose est superflue. Marche dans l’unité, et tiens-toi à l’écart de la dualité ; n’aie qu’un cœur, une quibla, un visage.
- Attar (CP:23) – como se chamar homem?
- Attar (CP:26-28) – peregrino
- Attar (CP:43-46) – Discurso da poupa aos pássaros
- Attar (CP:Invocação) – criação do homem
- Attar (CP:Invocação) – Todo mundo é Tu
- Attar (CP) – água
- Attar (CP) – Atitude dos Pássaros
- Attar (CP) – cão do desejo
- Attar (CP) – condição de burro
- Attar (CP) – Conferência dos Pássaros (síntese)