Tudo o que se manifesta é Poder (Shakti) como Mente, Vida e Matéria. Poder implica um detentor de poder (Shaktimān). Não existe Detentor de Poder sem Poder, ou Poder sem Detentor de Poder. O detentor do poder é Shiva. Poder é Shakti, a Grande Mãe do Universo. Não existe Shiva sem Shakti, ou Shakti sem Shiva. Os dois enquanto são em si mesmos, são um só. Cada um deles é Ser, Consciência e Bem-aventurança. Esses três termos são escolhidos para denotar a Realidade suprema, porque Ser ou “Esseralidade”, diferenciado de formas particulares de Ser, não pode ser pensado. “Ser” novamente é “estar consciente” e, por fim, o Ser-Consciência perfeito é o Todo, e o Ser ilimitado e irrestrito é a Bem-aventurança. Esses três termos representam a Realidade criativa última como ela é em si mesma. Pela imposição a esses termos de Nome (Nāma) e Forma (Rūpa) ou Mente e Matéria, temos o Ser-Consciência e a Bem-aventurança limitados que são o Universo.
O que dizer então de Poder quando não há Universo? Então, é Poder de Ser, de se autoconservar e de resistir à mudança. Na evolução, é Poder de se tornar e de mudar e, em sua manifestação como formas, é como causa material, o mutável Devir dos Mundos. Devir não é Deus, pois é forma finita e Ele é infinito sem forma. Mas a essência dessas formas é Poder infinito que = detentor de Poder infinito. É Ele quem libera Poder e cria Universo.
O repouso implica atividade, e a atividade implica repouso. Por trás de toda atividade, há um fundo estático. Shiva representa o aspecto estático da Realidade e Shakti, o aspecto móvel. Os dois, como são em si mesmos, são um só. Tudo é Real, tanto Imutável quanto Mutável. Māyā não é, nesse sistema, “ilusão”, mas é, nas palavras concisas do Shākta Sādhaka Kamalākānta, “a forma do sem forma” (Shūnyasya ākāra iti Māyā). O mundo é sua forma e, no entanto, essas formas são reais.
O homem é, então, em sua essência, o Detentor de Poder estático, ou Shiva, que é Consciência pura; e, como Mente e Corpo, é a manifestação de Poder de Shiva, ou Shakti ou Mãe. É, portanto, Shiva-Shakti. É, em sua forma atual, uma expressão de Poder. O objetivo da Sādhanā ou Adoração e Yoga é elevar esse Poder à sua expressão perfeita, que é perfeita no sentido de experiência ilimitada. Um modo de fazer isso é o Yoga aqui descrito, por meio do qual o homem troca sua experiência limitada ou mundana por aquela que é o Todo ilimitado (Pūrna) ou Bem-aventurança Perfeita.