Antonio Carneiro
Esta expressão1) não deve de jeito nenhum ser tomada aqui no sentido absoluto como o fez Fichte por exemplo; se bem que este ato decida sobre o lugar (ou princípio) pelo qual me oriento e que se desenvolve em mim, me dominando e me formando, não é a ação que forma e cria esse princípio próprio: é porque não tenho de maneira direta nenhuma ideia desta ação. “Nescimus quia non facimus”2. É nos necessário ser engendrados de Deus — receber nossa substância nele — se quisermos contemplá-lo, aceitar e fazer sua vontade. Como quereis ou podeis, vós que sois maus, perversos, dizer a verdade, querer o bem, etc., disse o Cristo. Uma árvore que é boa não pode carregar maus frutos (Mt: 7, 18). É nos seres (existência, substância) que penetra o espírito da vida, é nesses seres que recomeça seu ponto de partida. A função plástica, somática (reprodutora, como dizem os fisiologistas) coloca o indivíduo com seu conhecimento, seu querer, sua ação, segundo seu tipo definido, e não pode portanto cair dentro do interior de uma dessas três esferas de ação desse tipo; dito de outro modo, este indivíduo não pode ver como é criado e como é mantido no ser. Os fisiologistas enganam-se em consequência de não distinguir claramente o ternário « sensatio, appetitio et motus »3 da função somática ou produtora e reprodutora, a qual não é obra do indivíduo natural particular, mas do indivíduo natural geral (Mt: 6, 27. Mc: 4, 26-28). É igualmente acerca disso que se apoia a distinção feita par Adam Müller4 entre órgãos pessoais, que não são subordinados ao indivíduo, e órgãos reais, desprovidos do eu, submisso ao indivíduo e à esse propósito noto aqui de passagem o caráter convertível desses dois estados de um ao outro, nos casos de doenças inflamatórias, p. ex., a passagem da realidade à personalidade — respondendo a passagem possível e que se pode notar entre os sonâmbulos do sentimento à representação.
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Original
Cette expression5) ne doit pas du tout être prise ici au sens absolu comme le faisait Fichte par exemple ; car bien que cet acte décide du lieu (ou du principe) vers lequel je m’oriente et qui se développe en moi, en me dominant et en me formant, il n’est point l’action qui forme et crée ce principe même : c’est pourquoi je n’ai d’une manière directe aucune idée de cette action. Nescimus quia non facimus. Il nous faut être engendrés de Dieu — recevoir notre substance en lui — si nous voulons le contempler, accepter et faire sa volonté. Comment voulez-vous ou pouvez -vous, vous qui êtes mauvais, méchants, dire la vérité, vouloir le bien, etc., dit le Christ. Un arbre qui est bon ne peut porter de mauvais fruits (Matth., 7, 18). C’est dans les êtres (existence, substance) que pénètre l’esprit de la vie, c’est dans ces êtres qu’il reprend son point de départ. La fonction plastique, somatique (reproductrice, comme disent les physiologistes) pose l’individu avec sa connaissance, son vouloir, son action, d’après son type défini, et ne peut donc tomber à l’intérieur d’une de ces trois sphères d’action de ce type ; autrement dit, cet individu ne peut voir comment il est créé et comment il est maintenu dans l’être. Les physiologistes ont par suite tort de ne pas distinguer nettement le ternaire « sensatio, appetitio et motus » de la fonction somatique ou productrice et reproductrice, laquelle n’est pas l’œuvre de l’individu naturel particulier, mais de l’individu naturel général (Matth., 6, 27. Marc, 4,26-28). C’est également là-dessus que repose la distinction faite par Adam Müller entre organes personnels, qui ne sont pas subordonnés à l’individu, et organes réels, dépourvus de moi, soumis à l’individu ; et à ce propos je remarque ici en passant le caractère convertible de ces deux états l’un à l’autre, dans des cas de maladies d’inflammation, p. ex., le passage de la réalité à la personnalité — répondant au passage possible et que l’on peut remarquer chez les somnambules du sentiment à la représentation. [BaaderFG I §1 nota a]
« É por intermédio de minha colaboração e de minha ação pessoal que me torno bom ou mau ». (v. [hábito->mot1269] ↩
NT: No original em latim In: p.2 de Fermenta cognitionis, Volume 1, Franz R. v. Baader, Erstes Heft, Berlin, 1882, Gedruckt und verlegt bei G.Reimer. Tradução literal seria algo como: “não sabemos porque não fazemos”. O verbo “nescio” em latim pode ser traduzido por “não saber” simplesmente ou “não saber por não ter aprendido”. Trata-se de expressão enfática pois o verbo “facio” além de “fazer” simplesmente, pode também significar: “executar”, “desempenhar”, “cumprir”, criar, produzir, “fabricar” dentre vários outros. Enfim poderia ser traduzido como “não sabemos por não termos aprendido como também por não termos executado”. ↩
No original em latim (idem nota 2). Numa tradução literal seria algo como: “sentimento, apetite e movimento”, Entretanto existem variantes, como o caso da palavra francesa “sensation” que segundo Larousse virtual vem do baixo latim “sensatio” e do latim clássico “sentire”, no entanto o verbo “sentio” tem as seguintes definições: 1.Sentir, perceber pelos sentidos; ter ou experimentar uma sensação. 2 sentir (moralmente); conhecer; experimentar; sofre; ressentir-se de. 3. reconhecer; dar fé 4. saber, compreender. 5. ter uma opinião; pensar; julgar e 6. decidir; votar. Já “appetitio” faz sentido o primeiro significado: “esforço para chegar a; desejo; cobiça; em seguida: apetite; vontade (de comer ou beber); necessidade, não confundir com outra palavra muito parecida que é “appetitus”. Enquanto “Motus” no sentido figurado pode ser movimento da alma; sentimento; comoção; paixão; perturbação; e desvairo. Talvez mais apropriado ao texto se pudéssemos traduzir por “Sentimento, Esforço para chegar a, Movimento da Alma” — apenas uma variante. ↩
NT: Adam Müller (1779-1829) é sobretudo conhecido como pensador da antinomia (“Gegensatz”) e teórico do Estado. Sua influência possível sobre Hegel e seus laços com Friedrich Schlegel fazem dele um representante do romantismo filosófico e político. Protestante prussiano se tornou católico (1805), Müller colaborou em seguida com Kleist em Dresde onde os dois publicaram a revista Phöbus na qual apareceu o fragmento de “Penthésilée”. In: Éditeur Les Belles Lettres. ↩
« C’est par l’intermédiaire de ma collaboration et de mon action personnelle que je deviens bon ou mauvais ». (v. [hábito->mot1269] ↩