M.-C. R. – É mais importante se concentrar no corpo, na sensorialidade, na mente ou na Consciência?
E. B. – A ênfase está na sensação. Não podemos enfatizar a Consciência porque a Consciência é uma experiência não objetiva. A ênfase está no objeto, no corpo. Sem qualquer relação psicológica com esse corpo-objeto, ele fica livre de intenção.
Esse objeto passará por um certo número de transformações, das mais grosseiras às mais sutis, ou seja, do peso e espessura ao relaxamento, elasticidade, energia e vibração. Assim, deixamos esse corpo-objeto se desdobrar, deixar sua fisicalidade, tornar-se energia, vibração, spandana, da Consciência, samvida, e até mesmo abandonar sua estrutura energética para se tornar silêncio. A sensação do corpo será reabsorvida na escuta. Quando o corpo é reabsorvido, o sujeito que observa o corpo também é reabsorvido, porque não há sujeito sem objeto. Sem sujeito ou objeto, há uma escuta pura. A ênfase é colocada no corpo para permitir que ele seja eliminado.
A ênfase não está no corpo como na ioga clássica, em que há uma intenção, um desejo de domínio, em que se espera algo do corpo. Não há expectativas; a percepção é deixada livre. A percepção emerge do silêncio e é absorvida por ele.
Somente aqueles que já experimentaram a Consciência pura podem se concentrar diretamente na Consciência. Enquanto não houver essa experiência direta, a ênfase na Consciência é imaginária. Portanto, a ênfase está na sensação. Mas é uma ênfase que não espera nada. Você não interpreta a sensação, não a julga, não a manipula. Você a deixa viver, e o que vive, por sua própria natureza, morrerá, como uma flor que se abre e morre. Nesse momento, a energia é reintegrada à Consciência.