BODHI — Despertar
Segundo “Encyclopédie philosophique universelle : Les Notions philosophiques : Dictionnaire en deux volumes”:

Sânscrito, substantivo feminino.

«Despertar», operação pela qual certos seres, os BODHIsattva, «se despertando» para a realidade, descobrindo subitamente, mas depois de uma longa preparação, os princípios essenciais da doutrina budista e se tornando por este fato «budas» ou «Despertos». O Despertar compreende três fases sucessivas durante as quais, em uma só noite, o BODHIsattva descobre o que se chama as três ciências (vidya): ele se recorda então de todas as suas existências anteriores, o que o convence da realidade das transmigrações; vê em seguida os seres renascerem aqui e aí, felizes e infelizes, segundo a qualidade moral, boa ou má, de suas ações passadas, o que lhe revela a lei da maturação dos atos (karma-vipaka); enfim, constata o esgotamento total e definitivo de todo seu “fluir” impuro (asrava) e adquire assim a certeza de estar liberado para sempre da obrigação de renascer, logo de ter alcançado o Nirvana.


Budismo
Lilian Silburn: Aux sources du bouddhisme
Do Despertar, só se pode dizer uma coisa: é o supremo Enquanto-Tal (tathata), o Despertar assim sendo, não de outro modo. Enquanto a imaginação perturba a paz original da consciência, o Despertar não pode ter lugar. Mas quando se dá, se dá total, no instante e definitivamente.

Nada aí pode conduzir, nem mesmo o voto de alcança-lo, logo inútil buscá-lo: ele se esquiva a qualquer busca:

Não há dharma que possa servir para alcançar o Despertar e consequentemente nenhum Despertar. Penetrar isso é precisamente o que se chama Despertar… Em alcançando toda «produção», «produz-se» a consciência de Despertar (BODHIcittotpada). A produção do Despertar é não-produção.

Dito de outro modo, o Despertar se revela por ele mesmo, é idêntico ao maravilhoso Conhecimento do sem-produção sobre o qual nós nos entendemos longamente.
Embora seja inefável e escape à linguagem e a toda convenção, os budistas se esforçaram de defini-lo em relação à sapiência:

Chama-se Despertar a Sapiência de caráter real, que corresponde ao samadhi do vazio, e pelo qual são conhecidos o Enquanto-Tal, a Essencialidade, a suprema Realidade; é esta Sapiência de Realidade que é dito o Despertar.

Quando paixões e ignorância se esgotam, a sapiência se nomeia Despertar: Despertar do arhat e do buda-para-si que «tocam» a Realidade, mas permanecem muito absorvidos nela para portar qualquer interesse ao mundo; eles conhecem o essencial e as características gerais mas não obtêm o Despertar supremo e perfeito que celebra o Mahayana pois não alcançam a onisciência. Só a sapiência do Buda merece ser assim nomeada; onisciência onigenérica (sarvakarajnana), ela é apta a conhecer todas as coisas até em seus caracteres particulares. O Tathagata vê os diversos planos do universo em sua suprema realidade sem nada de contingente.