Bosch Juízo Final Centro

Jerônimo Bosch — O TRÍPTICO DO JUÍZO FINAL

No primeiro plano, o Príncipe das Trevas é o objeto de uma veneração plena de zelo. Em observando esta cena, entende-se fisiologicamente a cacofonia dos instrumentos infernais cuja barulheira acompanha os gritos das almas humanas danadas que aí se conduzem sem ordenamento. O painel central não representa a redenção das almas por Deus mas as bacanais tumultuosas dos pecadores. O inferno se insinua muito profundamente nas misturas e tumultos terrestres com a meta bem clara de sacudir a consciência do observador recolhido. Para os crentes da época, tais imagens eram uma língua viva que penetrava em sua própria inteligência e sua intimidade mais profunda. Eles viviam em suas carnes as cenas demoníacas que acompanhavam a morte danada das almas pecadoras. A observação do purgatório, ao contrário, dava a medida exata de seus próprios pecados e das consequências a temer. Eis aí o objetivo moralizante do conjunto de retábulo.

Representações vivas do medo, do pecado e da morte, do Juízo Final e do inferno eram as componentes permanentes do mundos dos pensamentos particularmente religioso da Idade Média. Os escritos moralizadores e as pregações eram complementares das pinturas extáticas representando os suplícios do inferno e as punições dos pecadores. Em nossos dias, a compreensão do conteúdo simbólico desta multitude de cenas permanece sempre fragmentária e não a princípio possível senão após comparação ou confrontação com outras obras. Mas pode-se afirmar sem medo que estas pinturas nada tinham de enigmático para os crentes desta época. Os altares de Jerônimo Bosch estavam aparentes nas pregações imaginadas que falavam deles mesmos uma linguagem compreensível para cada um e do qual os efeitos tocavam a todos os espectadores.

O painel central descreve um mundo que, pela profusão de suas cenas culpabilizadoras dos pecados que aí são cometidos, já é praticamente o inferno. As visões dos monges predicadores são traduzidas aqui em imagens bem claras que bastava olhar para compreender. Os vícios e as extravagâncias são tornadas visíveis em todos seus detalhes. Os personagens nus não despertam qualquer compaixão, seja pelas expressões da face ou dos gestos exprimindo tormentos: eles servem mais de exemplos para as sanções reservadas aos pecados e que os diabos encarregados de aplicar os suplícios lhes administrando com uma alegria tão sádica. O apocalipse constitui um dos temas fundamentais tendo preocupado os pensadores e os artistas desta época. O místico, o espiritual, o supersticioso, os sortilégios das bruxas e as visões apocalípticas são tão vivos quanto as propensões excessivas ligadas às extravagâncias dos vícios terrestres.