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Mircea Eliade: Excertos de “História das Crenças e das Ideias Religiosas”
A mais velha obra que chegou até nós, os Brahma-sûtra, atribuída ao rishi Bâdarâyana, foi provavelmente redigida no começo da nossa era. Mas ela não era, certamente, a primeira, pois Bâdarâyana cita os nomes e as ideias de numerosos autores que o precederam. Por exemplo, ao discutir as relações entre os atman individuais e Brahman, Bâdarâyana fala de três teorias diferentes, e lembra os nomes de seus mais ilustres representantes. De acordo com a primeira teoria, atman e Brahman são idênticos; afirma a segunda que atman e Brahman são, até a libertação, totalmente diferentes e separados; por fim, conforme o terceiro Mestre vedantino, os atman têm essência divina, mas não são idênticos a Brahman (Brahma-sûtra, I, 3, 21).
Ao discutir as teorias até então propostas, Bâdarâyana tinha muito provavelmente por objetivo a articulação de uma doutrina que proclama Brahman como a causa material e eficiente de tudo o que existe, e, ao mesmo tempo, como fundamento dos atman individuais; essa doutrina admitia, no entanto, que os libertados continuam a existir eternamente como seres individuais autônomos. Infelizmente, a compreensão dos 555 aforismos que constituem os Brahma Sutras é bastante difícil sem o auxílio de comentários. Singularmente concisos e enigmáticos, esses sutras serviam mais como um compêndio; é provável que o seu sentido fosse esclarecido por um mestre. Entretanto, os primeiros comentários foram esquecidos e, por fim, desapareceram, depois da interpretação genial dada por Sankara, por volta do ano 800 da nossa era. Conhecem-se apenas os nomes de alguns autores e certo número de citações (Ver H. de Glasenapp, La philosophie indienne, pp. 145 s.).