UPANIXADES — BRIHADARANYAKA UPANIXADE
“Driptabalaki, do clã dos Gargyas, era um homem de vastos conhecimentos. Um dia, ele foi ter com Ajatasatru, rei de Benares, e disse:
— “Posso instruir-vos sobre Brahman?”
Ajatasatru respondeu: “Dar-te-ei mil prendas se o conseguires, e então o povo espalhará correndo esta notícia : O nosso rei é tão generoso como o rei Janaka”.
Então, Gargya, iniciando o seu discurso disse:
— “No Sol, lá no alto, existe um espírito, adoro esse espírito como Brahman”.
— “Não ME fales dele desta maneira”, respondeu-lhe Ajatasatru.
“Considero o Sol apenas como o regedor da radiação e o rei de todos os seres da terra. Aquele que o adora deste modo torna-se o Senhor, o Chefe, e o Rei de todos os seres”.
Então Gargya disse: “Há um espírito na longínqua Lua, adoro esse espírito como Brahman”.
Ajatasatru respondeu-lhe: “Não ME fales dele deste modo. Apenas considero a Lua como o grande rei Soma, envolto em vestes alvas. Aquele que assim o adora recebe diariamente o suco do Soma e nunca lhe falta a comida”.
— “Existe um espírito no relâmpago”, disse Gargya, “adoro esse espírito como Brahman”.
— “Não ME fales dele dessa maneira”, disse o rei. “Considero o relâmpago apenas como uma coisa ofuscante. Aquele que o adora desse modo torna-se ofuscante, e ofuscante serão os seus filhos”.
Então, Gargya disse: “Existe um espírito no espaço etéreo, adoro esse espírito como Brahman”.
— “Como podes dizer isso?”, replicou o rei. “Considero o espaço etéreo apenas como a plenitude que não se envolve. Aquele que o adora desse modo enche-se de plenitude, de descendência, e de gados, e os seus descendentes não desaparecem deste mundo.
Então Gargya disse: “Há um espírito no vento e adoro esse espírito como Brahman”.
Ajatsatru respondeu:
— “Não ME fales desse modo. Adoro o vento apenas como o invencível Indra,.um exército inconquistável. Aquele que o adora desse modo torna-se um conquistador invencível que conquista todos os outros”.
Então Gargya disse:
— “Existe um espírito no fogo. Adoro esse espírito como Braman”
Ajatasatru respondeu-lhe:
— “Não ME fales dele desse modo. Adoro o fogo como um ser todo-poderoso. Aquele que o adora desse modo torna-se todo-poderoso, e, poderosa se torna a sua descendência”.
Então Gargya disse:
— “Há um espírito na água, ao qual, adoro como Brahman”.
Ajatasatru respondeu-lhe:
— “Como podes dizer isso? Adoro esse espírito como uma reflexão maravilhosa. Aquele que o adora desse modo é servido por tudo quanto reflecte a sua própria natureza, e os seus descendentes também a refletem”.
Então Gargya disse:
— “Existe um espírito no espelho, adoro-o como Brahman”.
O rei respondeu-lhe:
— “Então ME fales dele desse modo, porque adoro esse espírito como brilhante. E aquele que assim o adora torna-se brilhante, como brilhante é a sua descendência. Além do mais, em contacto com os outros, ele supera-os no seu brilho”.
Então Gargya disse:
— “Existe um espírito no som dos passos do homem, adoro esse espírito como Brahman”.
Ajatasatru respondeu-lhe:
— “Não ME fales dele desse modo, porque eu o adoro como vida. E aquele que assim o adora, torna-se a força da vida, e, na lida do mundo, o sopro vital não o abandona antes do seu tempo”.
Então Gargya disse:
— “Existe um espírito nos pontos cardiais; adoro esse espírito como Brahman”.
Ajatasatru respondeu-lhe:
— “Não ME fales dele desse modo, porque eu o adoro como o segundo que é inseparável da Unidade. Aquele que as sim o adora, adquire esse “segundo” e não é afastado pela pluralidade”.
Então Gargya disse:
— “Existe um espírito na sombra; adoro esse espírito como Brahman”.
Ajatasatru, respondeu-lhe:
— “Não ME fales dele desse modo, porque o adoro como um reflexo da morte. Aquele que o adora desse modo, torna-se poderoso neste mundo, e a morte não o colhe antes do seu tempo”.
Gargya disse:
— “Existe um espírito no corpo humano; adoro esse espírito como Brahman”.
Ajatasatru respondeu-lhe:
“Não ME fales dele desse modo, porque o adoro como o possuidor de uma entidade. Aquele que assim o adora, vem a possuir essa entidade, como também os seus descendentes”. Gargya manteve-se silencioso. Então o Rei perguntou-lhe: — “É tudo?”
— “É tudo!” respondeu Gargya. Disse o Rei:
— “Se isso é tudo, então, nada sabemos!” Gargya dirigiu-se ao Rei:
— “Consentis que eu seja o vosso discípulo?” Ajatasatru respondeu-lhe:
— “É contra os constumes um Brahmane aproximar-se de um Príncipe e pedir-lhe que discurse sobre Brahman. Contudo, eu te instruirei com toda a clareza”.