Brown (BLPS) – Mal

A solução de Boehme para o problema da teodiceia é sua ideia mais original. Ele rejeita a resposta maniqueísta, que postula um dualismo cósmico ao atribuir o mal a um segundo poder cósmico que se opõe a Deus e, assim, estabelece limites externos ao seu poder. A teodiceia de Boehme também difere da abordagem geral de Plotino e de vários platonistas cristãos, que consideram o mal como a privação do ser e da bondade. Eles argumentam que o mal não limita a onipotência do princípio mais elevado (ou Deus), uma vez que o mal é operativo apenas onde esse princípio mais elevado não está, ou seja, na mais distante distância ontológica do Um (Plotino), ou onde a vontade de uma criatura é perversa devido à ausência da graça (Cristianismo). Diferentemente dessas alternativas, Boehme diz que o Deus que é um complexo de oposições contém a fonte ontológica do mal como um constituinte “positivo” (real) em si mesmo. Deus supera eternamente esse poder perturbador em seu próprio processo de vida, enquanto o mesmo princípio, quando projetado na criação, torna-se a fonte do mal real nas criaturas. Boehme achava que havia descoberto uma maneira de afirmar que o mal é ontologicamente real e que não constitui uma ameaça ou limite para Deus. Ao mesmo tempo, extraiu dessa solução para o problema do mal as categorias que usou para tornar inteligível o processo de vida divina. Schelling adotou a mesma descrição geral do mal, mas deu maior coerência aos seus detalhes metafísicos.

Friedrich Schelling, Jacob Boehme