Nos Upanishads, mesmo os védicos, há uma pluralidade de visões sobre o Si. Limitar-nos-emos aqui a mencionar alguns que, como o Advaita Vedânta, proclamam a identidade do Si (atman) com o Si universal (brahman). O Brihad Aranyaka Oupanichad discute a questão do “agente interno” (Antaryamin), dizendo que “aquele que, residindo em todos os seres e diferente de todos os seres, que os seres não conhecem, cujo corpo são os seres, que de dentro atua em todos os seres, este é o seu âtman, o agente interno, imortal”. Ele é o sanctum sanctorum, “está escondido na caverna do coração, realizado como Deus”, e deve ser buscado por meio de um movimento de interiorização. Ele está por trás da personalidade fenomenal, como uma fonte interna, mas impessoal, de personalidade. O ego, por outro lado, a alma individual (jiva), é um produto que permanece na superfície, limitado pela compreensão e sensibilidade, uma criação do não conhecimento (avidya), enquanto o Eu é aquilo pelo qual a mente pensa, mas que nenhuma mente pode pensar. “Ele é aquilo que não é respirado pela respiração, mas pelo qual a respiração é conduzida”. (Ke. 1.8)
Também não deve ser confundido com o que chamamos de consciência, pois está subjacente a todos os fenômenos da consciência. É também o que torna possível toda percepção e, portanto, está presente em todas as nossas experiências. Mas é incognoscível, não porque seja desconhecido, mas porque é ele mesmo que torna possível todo o conhecimento. Ele é como uma luz que brilha por si só e ilumina todas as outras, e também é o substrato de nossos três estados de vigília, sono dos sonhos e sono profundo. Finalmente, ele é o Conhecedor Supremo, a Testemunha Interior, imortal. Ao mesmo tempo, é a bem-aventurança suprema (ananda).
Tudo isso nos mostra que o Si não pode ser apreendido como um objeto, que somente uma abordagem intuitiva pode nos aproximar dele, uma experiência pessoal e transcendente, e é por isso que o Vedânta dá tanta importância a essa busca. O Gîtâ fala de “vijnana”, o conhecimento combinado com a experiência, que, segundo ele, constitui “o segredo soberano”, “o conhecimento imperecível”, “o meio mais poderoso de santificação”, sem o qual as pessoas caem novamente no caminho da transmigração e da morte (samsara). Ele também é chamado de conhecimento revelado pela “percepção imediata” (pratyaksa) e “fácil de praticar”. Comparado a ele, o conhecimento empírico é considerado por Shankara como não-conhecimento, porque vem da percepção sensorial, que é sempre limitada e condenada à ilusão e ao erro. Shankara continua dizendo que o conhecimento do Si é autoevidente, pois cada um de nós está ciente de sua existência, já que ninguém pensa “eu não sou”. Mesmo que, em espírito, quiséssemos negar sua presença, estaríamos simplesmente confirmando que aquele que nega deve existir. Isso equivale a dizer que, para pensar, é preciso primeiro ser. O axioma vedantino poderia, portanto, ser traduzido como: Eu sou, logo penso”.
A realidade do Si, do Eu, é evidente por si mesma e não “precisa” de nenhuma prova externa. Ela é anterior a todos os nossos pensamentos, o pressuposto necessário de todos os nossos conhecimentos e ações; o fundamento de nossa existência, ela nos precede e nos constitui. E, no entanto, esquecemos esse fato óbvio. De acordo com o Vedânta, o remédio para essa situação errônea é um tipo de despertar, uma “reintegração”, um “retorno à fonte”, e isso só pode ser alcançado por meio da experiência pessoal. A intenção dessa doutrina não é, portanto, dar ao homem a aquisição de uma coisa nova, revelar-lhe um fato desconhecido, mas simplesmente torná-lo consciente dessa realidade fundamental, obscurecida pela existência empírica, mas imperecível. Seu papel é simplesmente destruir a ignorância (ajnana), que é comparada a uma nuvem negra que esconde o sol brilhante, e despertar o homem para a verdade (para aletheia — não esquecer) de sua natureza autêntica.