Como princípio cosmogônico, Kháos é a potência que instaura a procriação por cissiparidade, é um princípio de cissura e de separação, e como tal opõe-se a Éros, que, como princípio cosmogônico, instaura a procriação por união de dois elementos diversos e separados, masculino e feminino. Ambos, Kháos e Éros, estão lado a lado de Terra de amplo seio, de todos sede inabalável sempre. A rigor, Kháos e Éros, enquanto potências cosmogônicas, são paredros de Terra, que, sim, é o assento sempre firme, — o Fundamento Originário. Kháos e Éros, portanto, ladeiam a Terra-Ser como puros princípios ativos e energéticos, de naturezas opostas e contrapostas, como paredros (par-édroí) deste Assento Primordial (pánton hédos). Éros, princípio da união, é estéril, dele mesmo não surge nenhum rebento, ele de si mesmo nada produz. Kháos, princípio de divisão e separação, é prolífico e tem através de sua filha Noite numerosos descendentes — todos eles, incorpóreos como ele, são como ele puros princípios ativos e energéticos, sem substância física. Que o princípio da união seja estéril e o da divisão e separação prolífico — eis algo muito congruente com a sensibilidade e visão gregas. (Excertos de Teogonia, a Origem dos Deuses) (TTOD)