(Riffard1996)
Como se faz a infusão das virtudes ocultas nas espécies das coisas, pelas ideias, mediante a alma do mundo e os raios das estrelas e as casas que possuem ao máximo esta virtude
Os platónicos asseguram que todas as coisas aqui de baixo recebem as suas ideias das ideias superiores; logo, a definição de ideia consiste, em princípio, numa forma que está por cima das almas e dos espíritos que é uma, simples, pura, imutável, indivisível, incorpórea e eterna e a natureza de todas as ideias é a mesma, colocando as ideias dentro do próprio Bem, ou seja em Deus, querendo que sejam diferentes e distintas entre elas, por certas razões relativas, e tudo o que há no mundo não muda e é único e todas as coisas se aliam entre si, para que Deus não seja uma substância diferente. Colocam-nas na inteligência, quer dizer, na Alma do mundo, com formas propriamente distintas, mutuamente absolutas, de maneira que em Deus todas as ideias são uma só forma. Mas colocam várias na alma do mundo e nos outros espíritos, quer unidas num só corpo quer separadas. Colocam diversas com certa participação e em graus cada vez maiores. Infudem na natureza uma espécie de sementes inferiores de formas infusas pelas ideias. Finalmente colocam na matéria uma espécie de sombras. Acrescentam que, na alma do mundo, há tantas formas seminais de coisas, como há ideias no espírito divino, das quais se criam no Céu, as Estrelas e as figuras, imprimindo em todas as suas propriedades. Sendo assim, todas as virtudes e propriedades das espécies inferiores dependem destas estrelas, destas figuras e destas propriedades, de maneira que cada espécie tem uma figura celeste que lhe convém, donde lhe chega uma admirável potência para obrar. Esta qualidade, que lhe é própria, recebe-a da sua Ideia, pelas maneiras seminais da alma do mundo. Pois as ideias não só são causas do ser, como também de cada virtude que se encontra em tal espécie. Já vários filósofos disseram que certas virtudes, que têm uma forma segura e estável, não são fortuitas nem casuais, mas sim eficazes, potentes e infalíveis, que nada fazem em vão ou inutilmente. As virtudes que há na natureza das coisas movem-se e essas virtudes são operações das ideias, que só variam acidentalmente ou por impureza e desigualdade da matéria. Desta forma as coisas da mesma espécie encontram-se com mais ou menos virtudes, segundo a pureza ou a confusão da matéria. De tudo isto os platónicos tiraram um provérbio segundo o qual as virtudes celestes estavam infusas na matéria, segundo boas qualidades. Disse Virgílio:
«As coisas aqui em baixo recebem tanta força e virtude dos céus, quanta a matéria disposta a receber.»
Esta é a razão por que as coisas a que menos se atribui a ideia de matéria, ou seja as que recebem mais semelhanças dos corpos separados, têm virtudes maiores e mais eficazes na operação e semelhantes à operação da ideia dos corpos separados.
Sabemos que a situação e figura dos corpos celestes é a causa de toda a virtude do movimento que se encontra nas espécies inferiores.