De todos os mestres do sufismo, Ibn Arabi é (com Ruzbehan de Shiraz) um daqueles que levaram mais longe a análise dos fenômenos do amor; pôs em obra uma dialética muito pessoal, eminentemente própria a nos fazer descobrir qual é o deleite da devoção total professada pelos «Fiéis do Amor». Do que aqui esboçamos, surge a questão: Que é então amar a Deus? E como é possível amar a Deus? Eis expressões que a língua religiosa emprega primeiramente como se se tratasse de evidências óbvias. Ora, não é tão simples, Ibn Arabi nos faz progredir por uma dupla constatação: «Eu atesto Deus, escreve, se permanecêssemos só nos argumentos racionais da filosofia, os quais, se nos fazem conhecer a Essência divina, não o fazem senão de uma maneira negativa, é certo que nenhuma criatura jamais experimentou amor por Deus… A religião positiva nos ensina que ele é isto e aquilo; estes são atributos cujas aparências exotéricas são absurdas pela razão filosófica, e no entanto é por causa destes atributos positivos que o amamos». De acordo com isso, incumbe à religião nos dizer: Nada lhe assemelha. Mas por outro lado, Deus não pode nos ser conhecido senão nisto que experimentamos dele, de sorte que «pudéssemos o tipificar e o tomar como objeto de nossa contemplação, assim como no íntimo de nossos corações como diante de nossos olhos e em nossa imaginação, como se o víssemos, ou melhor dito, de tal sorte que o víssemos realmente… Ele é aquele que em cada ser amado se manifesta a respeito de cada amante…. de maneira que nenhum outro que ele não é adorado, pois é impossível adorar um ser sem se representar nela a divindade… Assim ocorre com o amor: um ser não ama em realidade nenhum outro que seu criador». A própria vida de Ibn Arabi nos fornece sobre todos estes pontos o penhor de uma experiência pessoal.
Mais si l’unique Aimé n’est jamais visible que dans une Forme qui en est l’épiphanie (mazhar), s’il est bien chaque fois unique pour chaque unique, c’est que cette Forme le montre, certes, mais en mème temps elle le cache, puisqu’il est encore au-delà. Comment alors s’y montre-t-il, s’il est vrai qu’elle le cache et que pourtant, privé d’elle, il ne pourrait se montrer ? Quel rapport entre l’Aimé réel et la forme concrète qui le rend visible ? Il faut nécessairement entre les deux une con-spiration (persan hamdamî), une sym-pathie. Et alors quelle sorte d’amour s’adresse en réalité à cette forme qui le manifeste ? Quand cet amour est-il vrai, et quand se méprend-il en s’éprenant ? Finalement qui est l’Aimé réel, mais aussi qui est l’Amant en réalité ?
[CorbinIbnArabi]