ESTADOS SUPERIORES — CORPO PARADISÍACO
VIDE: corpos sutis; corpo etéreo; corpo de ressurreição; corpo, carne
Leo Schaya
“Um rio (espiritual e etéreo) sai do Éden (da Essência pura e suprema do homem) para regar o jardim (de sua alma, unida por seu espírito a Deus, e de seu corpo interior que dele é o habitáculo), e daí, se divide em quatro braços”(Gen 2,10), quer dizer que a partir da Unidade interior e divina do homem, a redescida de seu ser sobre a “terra maldita” implica na manifestação diferenciada de sua “Alma única” sob o aspecto de uma alma quádrupla (v. Ser Humano na Cabala), e aquela de sua substância etérea sob a forma dos quatro elementos sensíveis (v. Quatro Elementos) constituindo seu corpo mortal. Pois, enquanto o homem nascido no estado de Queda é chamado a viver aqui em baixo, ele deve assumir extrinsecamente as condições deste estado, mesmo quando ele tenha reencontrado interiormente o paraíso perdido vivendo unido a Deus. Não é senão no momento em que sua alma está definitivamente liberada de seu corpo decaído que ela se torna puro espírito divino, para sempre liberado de todas as consequências do pecado original. E é o mesmo anjo tentador que conduziu o homem ao pecado e, por este, à perda da imortalidade — seu corpo incorruptível se reduzindo a uma virtualidade envelopada por um corpo novo e perecível —, é o mesmo anjo enganador que é agora enviado por Deus como anjo exterminador para liberar o homem de seu corpo doloroso. É graças à intervenção do anjo da morte que o espírito do homem pode resplandecer de novo de uma maneira plena em seu hábito imaculado e incorruptível (Corpo de Glória).
Quando chega a hora de deixar este mundo, diz a Cabala (Zohar), o espírito ou (a alma do homem) dele se vai somente depois que o anjo destrutor o despiu do corpo de aqui de baixo. Em seguida, o espírito retoma o corpo paradisíaco do qual era revestido antes de sua vinda neste mundo (vinda que implica entre outras coisas sua descida através do degrau cósmico correspondente ao paraíso terrestre, assim como seu envelopamento pela substância etérea deste, à maneira do que tem lugar para a substância dos outros degraus existenciais que ele atravessa). O espírito não experimenta verdadeira alegria senão revestido do corpo paradisíaco; nele, ele se repousa e se move, e contempla sem cessar os Mistérios supremos que não poderia penetrar e assimilar, estando envelopado do corpo terrestre (decaído, pois em sua contemplação aqui em baixo igualmente, o espírito não alcança sua meta senão no momento em que este corpo se absorve em sua quintessência etérea, oculta no coração e suscetível de reconstituir o corpo paradisíaco, ele mesmo apto a se transmutar em corpo universal do homem e a se reintegrar, enquanto tal, em seu Arquétipo metacósmico; a Bíblia faz alusão à transfiguração do corpo humano, por certos de seus relatos, entre outros aqueles das ascensões ao céu de algumas de sua figuras ilustres). Quem pode descrever a alegria que experimenta a alma quando se vê de novo revestida de seu corpo paradisíaco? E quem ofereceu à alma esta alegria de se revestir de novo do corpo de paraíso? Não é o anjo exterminador (ou, na contemplação espiritual aqui em baixo, a morte ao mundo e ao “eu”) que o despiu previamente do corpo terrestre? Eis porque este anjo é chamado “Muito Bom” (anjo que é compreendido, segundo a Cabala, no mistério mais profundo de “tudo o que Deus fez” e que Ele qualificou Ele mesmo de “muito bom”, no Gen 1,31. O Santo, bendito seja, acordou aos homens o favor de não serem despidos de seus corpos daqui de baixo, sem que outros corpos mais gloriosos e mais nobres os esperem, — exceto todavia os pecadores que morrem sem penitência; as almas impenitentes se vão daqui nuas, como vieram (neste baixo mundo em atravessando os paraísos celestes e terrestre, seus envelopes paradisíacos respectivos se reduzindo a puras virtualidades no seio de seu corpo terrestre decaído; ora, se elas deixam este mundo em estado de impenitência, elas estão desnudas, despojadas do corpo terrestre, sem recuperar seus corpos paradisíacos, seja terrestre, seja celeste: elas gozam no entanto, não seja por um “instante”, deste Corpo Glorioso, a fim de ver a Verdade, de ver o que elas teriam podido e devido realizar sobre a terra e reencontrar plenamente após a morte aqui em baixo; tendo assim sofrido seu julgamento pela Verdade, as almas culpáveis são condenadas a sua “nudez” sendo reduzidas a seu elemento ígneo de natureza sutil — o “fogo do alto” —, no qual elas queimam e que desde então é seu inferno ou seu purgatório. Quando a alma (pecadora, despojada de seu corpo terrestre e desse corpo paradisíaco) não encontra envelope, ele se envergonha diante das outras e encontra seu castigo no inferno de baixo aquecido pelo fogo do alto (quer dizer, acabamos de ver, aquecido da substância “ígnea” da alma mesma, que é de origem celeste, mas se torna infernal quando ela se encontra reduzida a ela só, como separada dos três elementos sutis — a “terra”, a “água” e o “ar” celestes — que se retiraram em sua quintessência comum. O “Éter do alto”; normalmente, os Quatro Elementos sutis ou celestes — como aqueles do paraíso terrestre — se encontram “absorvidos um no outro” em uma perfeita harmonia, no seio de sua quintessência que reflete o “Nome completo” resumindo as quatro letras YHWH, e que constitui o Corpo de Glória). Algumas destas almas (culpáveis) no entanto são salvas ao final de certa duração (supratemporal); são aquelas dos pecadores que tomaram a determinação de fazer penitência, sem poder aí chegar. Sua alma é castigada durante certa duração e salva em seguida. Eis como é grande a misericórdia do Santo, bendito seja, para com Suas criaturas… (basta, como o desenvolve a sequência do texto ter tido a intenção de se arrepender para que Deus não rejeite completamente a alma).
Anthony Damiani: Astronoesis
Augoiedes é o veículo perpétuo ou celestial da alma — sua «veste de glória».