Da maneira como se pode conhecer e experimentar nas coisas as virtudes

(Agrippa, De occulta philosophia, Riffard1996)

Da maneira como se pode conhecer e experimentar nas coisas as virtudes que estão unidas a algo particular, pela bondade do individuo

Há, além disso, que considerar que há virtudes em certas coisas que se estendem a toda a espécie, ou segundo a espécie, como o destemor e o valor no leão e no galo, a timidez na lebre e no cordeiro, o ardor de arrebatar ou devorar no lobo, a finura e a subtileza para as emboscadas na raposa, a lisonja no cão, a avareza no corvo e na gralha, a soberba no cavalo, a cólera no tigre e no javali, a tristeza e melancolia no gato, a voluptuosidade no gorrião e assim sucessivamente, pois a maior parte das [201] virtudes acompanham as espécies. Há outras que estão nas coisas segundo o indivíduo, como há alguns homens que têm horror aos gatos, de forma que não podem sequer olhá-los sem grande repugnância e esta repugnância não se encontra neles pela sua espécie, coisa que está clara. Avicena disse que, no seu tempo, havia um homem de quem se afastava tudo o que tivesse algo de venenoso, e que todos os outros tinham morrido mordidos por animais venenosos, mas ele tinha ficado sem vestígios de veneno. Alberto disse que viu em Colónia uma jovem que comia aranhas, alimentando-se muito bem com elas. Do mesmo modo, se encontra a insolência num libertino e a timidez num ladrão. Por isso os filósofos disseram que um indivíduo ou um corpo que nunca tenha estado doente, contribui muito para curar toda a espécie de enfermidades e dizem, por esta razão, que o rosto de um homem morto que nunca tenha tido febre, posto sobre um doente, cura a febre quartã.

Têm os indivíduos muitas virtudes singulares provocadas pelos corpos celestes e que agora vamos mostrar.

 

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