BUDISMO — CHAN — AS DEZ ETAPAS DA ILUMINAÇÃO
”PASTOREIO DO BOI E O ZEN (excertos de “O Retorno à Origem”, de Lex Hixon)”
5. A DOMESTICAÇÃO DO BOI — Uma intimidade ou amizade espontânea com o Boi agora se estabelece. O Boi torna-se um companheiro livre, não um instrumento para arar o campo da Iluminação.
A quinta imagem do Pastoreio do Boi, a Domesticação do Boi, indica uma intimidade maior com a Verdadeira Natureza. A fase anterior, a Captura do Boi, significa sustentar e controlar a percepção intuitiva espiritual em todas as circunstâncias. A Domesticação do Boi é uma fase mais sutil. Uma intimidade ou amizade espontânea com o Boi agora se estabelece. Todo o movimento do pensamento deve se integrar à compreensão da Verdadeira Natureza. Todos os fenômenos são domesticados pela afabilidade pura como a de uma criança daquele que está deixando de ser um praticante adiantado para tornar-se um sábio iluminado. Assim está redigido o comentário: Com o surgimento de um pensamento, nasce outro depois de outro. A Iluminação traz o entendimento de que esses pensamentos não são irreais, uma vez que até mesmo eles se originam da nossa Verdadeira Natureza. E somente porque a ilusão ainda permanece que eles são considerados irreais. Poderíamos supor que a Domesticação do Boi começaria com a eliminação de todos os pensamentos, ou pelo menos de certos pensamentos considerados negativos, impuros, ou irreais. Mas esse não é o caminho da Iluminação, que atua fundamentalmente por meio da inclusão, não da exclusão. A Domesticação do Boi é o desapego, por parte do praticante, de convicções relacionadas com a disciplina, pureza e discernimento, que eram importantes nos estágios anteriores. Quando seguimos as pegadas do Boi, que aparece como os ensinamentos de várias tradições sagradas, aprendemos a distinguir entre o irreal e o real, entre nossas ilusões humanas arraigadas e a sabedoria dos sábios. Descobrimos agora que todos os pensamentos são intrinsecamente os mesmos, uma vez que cada um surge da Mente Original. Somente porque vestígios de ilusão permanecem é que qualquer pensamento é considerado diferente da Iluminação. Contudo, sem essa temporária ilusão espiritual de separação entre a verdade suprema e a verdade relativa, entre a percepção intuitiva e a ignorância, não teria havido nenhum esclarecimento da Verdadeira Natureza e sim apenas o caos do desejo habitual.
A Domesticação do Boi começa a dissipar essa separação ilusória entre a vida espiritual e a vida comum, distinção não mais necessária. Aquele que está se tornando um sábio trava amizade com as limitações do ego comum, em vez de se recolher ao ego transcendental do estudioso espiritual ou do praticante adiantado. Este é o primeiro indício da misteriosa normalidade na qual o sábio acaba desaparecendo. Eis o que diz o comentário, ao descrever o Boi neste estágio: Quando adequadamente conduzido, ele se torna puro e gentil. Ao ser desamarrado, segue de bom grado seu amo. O objetivo dessa domesticação é desamarrar o Boi, liberar a consciência primordial que agora focalizamos como um corpo e uma mente específicos. O Boi torna-se um companheiro livre, não um instrumento para arar o campo da Iluminação. Este é um processo gracioso, e não um desencadear violento de energia. Todo o movimento torna-se equilibrado.