Dyczkowski (MDDV:73-74) – unidade e diversidade

Embora diversos elementos possam aparecer na consciência, devem ser distinguidos uns dos outros. As aparências individuais compartilham uma natureza comum como aparências e, portanto, não podem se separar umas das outras; caso contrário, os elementos separados, desassociados de sua natureza essencial, não apareceriam de forma alguma. Estabelecido em sua própria natureza indiferenciada (aviśiṣṭa), o universo não seria um universo a menos que a própria luz da consciência diferenciasse as diversas formas que cria por meio de seu brilho espontâneo. Faz isso por meio das várias maneiras pelas quais reflete sobre sua própria natureza. Embora a Luz seja sempre indivisa no nível inferior de Māyā, bem como no nível superior de consciência pura, a percepção reflexiva que tem de sua própria natureza não o é. Assim, embora a Luz expresse a unidade da consciência, a percepção, quando distinguida dela, expressa a diversidade de percepções. Em nível microcósmico, podemos dizer:

A luz única da consciência consiste em tipos de percepção reflexiva como: ‘isto é uma jarra’ e ‘isto é um pano’; ‘esses dois estão separados um do outro e de outros sujeitos, bem como de mim’. (Malinivijayavartika)

Em nível macrocósmico:

A Luz é a realidade suprema (paramārtha) que engloba (as categorias) da Terra a Paramaśiva, (enquanto) o desdobramento (unmeṣa) de ser/estar-ciente-de-si do Coração (da consciência do ‘eu’) dentro dela, distingue entre elas. (Maharthamañjari)

Isso não significa que vimarśa seja diverso. Embora seja devido ao ser/estar-ciente da unidade ou distinção relativa entre os fenômenos iluminados pela luz da consciência que eles são experimentados como um ou diversos, isso só é possível porque o ser/estar-ciente é o mesmo em ambos os casos. Este, então, é outro aspecto da natureza dinâmica do ser/estar-ciente: é a “liberdade (da consciência) de unir, separar e manter as coisas juntas”. Isso distingue a consciência dos objetos inertes “desprovidos da liberdade de se unir e se separar”. É a vibração da consciência que gera o universo por um processo de unir e dividir os elementos contidos nele em um estado indiferenciado.

 

Mark Dyczkowski