Eliade-Couliano (Dicionário) – budismo chinês

Por volta de 130, a presença do budismo é já dada como certa em Chang-an, capital do império Han (206 a. C. – 220 d. C), dominado por um confucionismo rígido e escolástico. No começo, o budismo é dominado por uma estranha seita budista tauista, sobretudo devido ao fato de as primeiras traduções corretas de textos indianos em chinês não surgirem antes do fim do século III d. C, servindo-se por isso de equivalentes tauistas para traduzir os conceitos da nova religião.

Após a conquista do norte pelos Hunos, o budismo mantém-se no Sul, pouco povoado, entre os aristocratas e os letrados como Hui-yuan (334-416), fundador do amidismo (culto do Buda Amitabha) ou escola da Terra Pura. No século vi, o imperador Wu Liang converte-se ao budismo, que favorece em detrimento do tauismo. Mas já antes desta época, o budismo popular, primeiro, e o amidismo, depois, tinham voltado ao Norte, apesar da feroz resistência do confucionismo. E no Norte que se instala, no século V, o grande tradutor Kumarajiva.

Durante as dinastias Sui e T’ang, na China reunificada, o budismo prospera em todas as classes sociais. A sua difusão foi assegurada pela escola Chan (Zen em japonês; do sânscrito dhyana, «meditação»), que ensina a imanência do Buda e das técnicas especiais de meditação para obter um iluminar imediato. O Chan reclama-se do Bodhidharma, que seria o vigésimo oitavo patriarca do budismo indiano a partir do próprio Buda.

Uma outra escola muito influente é a T’ien-t’ai (japonês Tendai), fundada na montanha do mesmo nome em Chekiang por Chih-i (531-97).

A extraordinária vitalidade e prosperidade do budismo dará inevitavelmente azo a invejas da corte, com repercussões atrozes entre 842 e 845: a religião será suprimida, os seus santuários serão destruídos e os monges serão obrigados a tornar-se laicos. É o declínio do poder do budismo chinês que perderá assim terreno ante o confucionismo, que se torna doutrina do Estado (século XIV).

Especialistas eminentes do budismo chinês como Anthony C. Yu sublinharam em diversas ocasiões que uma certa sinología, inspirada na ideologia das Luzes, prefere sempre ignorar o contributo fundamental do budismo para a cultura chinesa. Um índice de vitalidade do budismo, além das perseguições e da perda de poder ante o confucionismo (o), é o romance Hsi-yu chi ou Viagem para o Ocidente, frequentemente atribuído ao funcionário Wu Ch’eng-en (século XVI). Do mesmo modo que Paul Mus nos deu uma história do budismo na Asia Meridional a partir da descrição do templo de Borobudur na ilha indonésia de Java, Anthony Yu, na sua magistral tradução integral do Hsi-yu chi, apresenta-nos, no fundo, toda a história do budismo chinês, da sua origem indiana e cultivada, mas também do seu extraordinário desenvolvimento popular. O romance conta os feitos do monge Hsuan-tsang, que parte em 627 para a Índia, a fim de levar para a China as escrituras budistas autênticas. Mas Hsuan-tsang, que é frequentemente objeto de uma ironia leve por parte do autor, não é o verdadeiro herói da história. É Singe, o antepassado semidivino possuidor de todos os grandes poderes mágicos, que prende a atenção do leitor. Personagem majestosa e simultaneamente ridícula, ele incarna os dois aspectos contraditórios de um passado mítico: a força espiritual e uma simplicidade cômica. [Eliade e Couliano]

Buda