Escrita Chinesa

ESCRITA CHINESA
Tao
Henry Normand: Mestres do Tao
O primeiro sistema chinês de escrita consistia no uso de nós ou de entalhes. Conhecido na índia, esse procedimento era encontrado igualmente na América do Sul. Não se sabe praticamente mais nada a respeito desse método, a não ser que devia constituir um suporte mnemotécnico baseado no sistema decimal. No início da Dinastia Chang (1.500 a.C.) — período que se convencionou chamar de Idade do Bronze —, constata-se o aparecimento dos logogramas sobre ossos, utilizados pelos xamãs. A forma mais antiga de escrita chinesa foi encontrada, entre outras, sobre a face interna das carapaças de tartaruga. Um escriba entalha questões destinadas a interrogar o futuro e faz furos na carapaça. Em seguida, aquece essa carapaça no fogo e lê o destino nas fendas que se formaram em torno dos furos. Esse uso parece ter perdurado durante muito tempo, e é mencionado pelos mestres do Tao.

Os primeiros pictogramas, inicialmente desenhados com o auxílio de um caniço, eram praticamente figurativos ou, pelo menos, muito próximos do objeto que queriam representar. Na época dos Tcheou (1112 a.C.), já existiam obras escritas, mas os desenhos se transformaram em caracteres muito afastados da realidade; contudo, transparece nesses desenhos o esquema da origem gráfica: essa escrita é dita sigilária (lembrando um selo). A evolução prossegue, dando origem à escrita denominada “dos tribunais”, que se toma então irreconhecível. Supõe-se que um dos objetivos do primeiro imperador Ts’in, Che Houang Ti (291 a.C.), ao ordenar à destruição dos livros antigos, tenha sido o de codificar a escrita. Seu ministro, Li Sseu, tornou obrigatória — para uso dos escribas — uma compilação que continha, segundo se diz, três mil caracteres. Contudo, a habilidade dos escribas começava a ganhar importância e os caracteres se tomavam cada vez menos fiéis aos modelos figurativos, terminando por se transformarem em caracteres quase convencionais.

O GÊNIO CHINÊS
É provável que a escrita tenha evoluído de modo considerável quando o estilete foi substituído pelo pincel de bambu. Na época Han (206 a.C. — 219 d.C.), a caligrafia se toma uma arte extremamente desenvolvida. Sob essa Dinastia, foi atribuída a Tsai-Louen (105 d.C.) a invenção do papel, muito embora houvessem sido encontrados fragmentos mais antigos de papel feito de trapos. Até então, os “livros” eram escritos sobre lâminas de bambu ligadas entre si, limitando as possibilidades gráficas. A pasta de papel, feita de casca, cânhamo e de trapos, era engrossada com amido, estando o gesso incorporado a essa mistura. Untado com gelatina, o papel chegava a ser polido. Um gênio criativo desse tipo — que, mais tarde, fez maravilhas no Ocidente — só podia inspirar-se em um modo de pensar centrado nas correspondências fenomênicas, fossem elas aparentes ou invisíveis. Na realidade, as imperfeições da língua chinesa indireta e suas qualidades comparativas estão, sem sombra de dúvida, na base dessa precocidade tecnológica na história da humanidade. A tecedura da seda (que, antes do papel, já servia de suporte à escrita) prova que os chineses tinham grande capacidade para transformar a observação da Natureza em aplicação física. Mais tarde, a invenção da imprensa constituirá uma verdadeira revolução e contribuirá para estabelecer a forma escrita nas civilizações do mundo.

Supõe-se que as primeiras pranchas de madeira gravadas remontem ao século VII de nossa era, ainda que o procedimento de entintamento e de decalque sobre pedra já fosse utilizado no século IV. Mas a xilografia constituiu, indubitavelmente, o primeiro método conhecido a ter como objetivo uma reprodução múltipla da forma escrita. Sobre uma prateleira de madeira (geralmente de pereira ou de jujubeira), previamente recoberta de cola, colocava-se uma folha de papel caligrafado. A tinta dessa folha aderia à cola e o escultor só precisava colocar em relevo os ideogramas. A impressão era feita através do entintamento dos relevos, sobre os quais se aplicavam folhas virgens. Somente sete séculos mais tarde apareceu na Europa a impressão.

Toda a ciência sagrada da China está profundamente impregnada por seu bem mais precioso: a língua, que, transcendendo as deformações de pronúncia, sempre é legível mediante a sua escrita, fundamentada na imagem (e não no som). Esse elemento constante é uma demonstração da especificidade chinesa, que, a despeito dos acasos históricos, conserva um fundo ancestral que zomba das ideologias. O taoismo, fruto dessa cultura, se distingue das outras religiões pelo aspecto pragmático de seus enunciados, fato que pode parecer contraditório em função do teor metafísico de uma tradição. Na realidade, se a observação da imagem tende para o empirismo físico, essa mesma imagem abre perspectivas no que concerne aos princípios que governam a forma. O grafismo despojado de artifícios complexos conduz a uma geometria simples que, transcendida, se reduz à informação. O simbolismo se sobrepõe então à expressão corrente. Em última análise, quando a imagem é vista enquanto tal, imóvel, chega-se à conquista do “real”.

Perenialistas – Referências