Existência e Eternidade do Inferno — AT
VIDE
Roberto Pla
Antigo Testamento
1. Humilha profundamente tua alma, que o castigo é fogo e vermes (Eclesiástico 7,17)
Segundo a leitura em seu sentido oculto, este texto explica que a humildade ou nadidade da alma (a negação se si mesmo segundo a linguagem de Jesus) é o que servirá para evitar a ação dolorosa do fogo purificador antes de aceder à Vida eterna. Sabemos que o fogo é eterno e que o “verme” nunca morre, mas a eternidade do castigo não é mencionada na perícope.
Por outro lado, os “vermes” de que aqui se fala parecem ser os que engendra o corpo putrefato que se arroja ao Tofete da geena visível. Nem nesse “vermes”, nem nesse fogo se veem signos de eternidade.
2. Os pecadores de Sião se assombraram; o tremor apoderou-se dos ímpios. Quem dentre nós pode habitar com o fogo consumidor? quem dentre nós pode habitar com as labaredas eternas? (Is 33:14)
Nenhuma alma poderá habitar com o fogo eterno, porque as chamas deste fogo consomem tudo o que na alma é palha, pecado, impiedade. Consumem toda a palha, e quando chega a estar a alma desnuda, alcança a segunda morte. Então grão, livre, ressuscita dentre os mortos.
3. E sairão, e verão os cadáveres dos homens que transgrediram contra mim; porque o seu verme nunca morrerá, nem o seu fogo se apagará; e eles serão um horror para toda a carne.” (Is 66:24)
Os que se “prosternam” para adorar o Senhor são as partículas de luz, os grãos que obtiveram sua desnudez perfeita. A estes lhes é dado contemplar “ao sair”, quer dizer, se saem de si mesmos, os cadáveres — o morto, a palha já peneirada — das almas que se negavam a reconhecer ao Senhor como seu Ser verdadeiro.
Estas almas recobertas de palha tiveram por seu Ser verdadeiro, por seu Eu real, ao eu psicológico, ao Adversário. Se deste “verme” se diz que “não morrerá”, ‘eporque nunca existiu senão na falsa interpretação do homem. O que não existe não pode morrer, e somente quando sua não existência real é descoberta, é lançado fora, ao nada do não criado.
Isso é o que explicou Jesus quando referindo-se ao “verme que não morre”, quer dizer, à serpente antiga, cuja “figura” e representação foi designada a Judas pelo evangelho, disse: “Agora o Príncipe deste mundo será lançado fora” (Jo 2,31). Não disse, “agora morrerá”, senão “agora será lançado fora”. Com isto quis dizer que uma vez reconhecido como inexistente, esse verme que não morre, não tem lugar no mundo.
Mas que é “ser lançado do mundo”? Porque “fora do mundo”, só se pode dizer do Reino do Filho, ingênito — que não é do mundo —, ou também, do Abismo e as trevas sobre as quais se fizeram os céus e a terra — o mundo — e que foram reputados como “o nada”. A esse “nada” ou Abismo, exterior ao mundo criado, é lançado o verme que não morre, o príncipe do mundo, quando sua inexistência é derrotada pelo conhecimento do fogo que não se apagará.
Tudo isto se confirma no Apocalipse, menos mítico neste caso que o profeta e os evangelhos: O Dragão, a Serpente antiga, — que é o Diabo e Satanás (um e o mesmo) —, foi arrojado ao Abismo e encadeado por “mil anos”; quer dizer, por um número quase infinito, incontável, de anos, até a nova geração, que tal venha depois, uma vez que estes céus e terra de agora tenham passado (Ap 20, 1-3).
4. E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e desprezo eterno. (Dan 12:2)
Se não conhecêssemos a imagem de Mateus da palha e do grão separados com o pilão, poderíamos pensar que Daniel fala esta vez de homens inteiramente bons e inteiramente maus. Mas João Batista e quiças também Daniel parecem extrair sua imagem do profeta Isaías: “Eis que farei de ti um trilho novo, que tem dentes agudos; os montes (os seres humanos) trilharás e os moerás (com o pilão), e os outeiros (os falsos conteúdos aderidos) tornarás como a pragana. Tu os padejarás e o vento (o espírito) os levará, e o redemoinho os espalhará (a todos os agregados de palha que não são o grão desnudo)” (Is 41:15-16)