Evola Demônio

Julius Evola — A DOUTRINA DO DESPERTAR
DEMÔNIO E CONSCIÊNCIA
Isto dito, convém tomar em consideração o terceiro elemento. No texto já indicado, diz-se que o olho hipersensível vê vagar o demônio, até que se apresenta para ele a ocasião de uma nova «combustão», quando apercebe a união sexual de um homem e de uma mulher, tais que, para apresentar uma hereditariedade correspondendo ao objeto da concupiscência, eles possam ser seu pai e mãe. É então que se determina um fato, a respeito da doutrina em questão, que apresenta uma singular concordância de ideias com o que a psicanálise — apesar das deformações e exageros em todos gêneros —pressentiu em nossos dias, segundo sua teoria do libido e do complexo de Édipo ou de Electra. Com efeito, aí é falado de um desejo, que esta entidade conceberia, ou para a futura mãe, ou para o futuro pai, e isto segundo sexo que foi o seu no curso da vida precedente, mas já extinta, — e de uma aversão correspondente para o outro genitor. Segue-se uma identificação com a embriaguez e o desfrute do casal, por meio do qual a entidade penetra na matriz: e então se opera a concepção. Logo em seguida, se condensam ao redor dele diversas khandhas, quer dizer elementos concatenados de germinação, que se encontrarão na base do novo ser — e começa o processo fisiológico do desenvolvimento embrional, tal qual o conhece a genética contemporânea em seus aspectos exteriores, e tal qual o considera, nestas condições internas, a teoria relativa aos diversos outros nidanas, a respeito da qual nos resta ainda dizer.

Assim em última análise, se encontram presentes, no ser humano, três princípios ou entidades, aqueles mesmos que, no Samkhya, levam os nomes de karatia-çarira, linga-çarira e de sthula-çarira, e que as antigas tradições ocidentais conheceram como nous, psyche e soma, e como mens, anima e corpus. A respeito destes últimos, convém relembra a estreita relação que concebida entre a alma, enquanto «demônio» ou «duplo», e o «gênio», enquanto «vida» e «memória» de um sangue dado e de uma camada dada: coisa que, por sua vez, remete à já indicada «via dos pais» upanixadica — pitr-yana — ao sendeiro que reconduz sempre ao nascimento, segundo a lei da concupiscência e do destino da existência samsarica. A «alma» (enquanto princípio distinto daquele que é propriamente espiritual), segundo a concepção originária, pertence precisamente a este plano, se funda mais ou menos com a entidade irracional que é o «demônio»: nos textos budistas da prajnaparamita, igualmente, a pessoa ou «alma» — pudgala — se confunde frequentemente com este princípio pré-formado, que assume a existência, enquanto vida de uma vida determinada, e que, desta, mantém junto os elementos, ao mesmo tempo que se mantém como uma força não ligada a eles, a qual não cessa de existir com a morte do indivíduo particular.



Julius Evola