JULIUS EVOLA — A DOUTRINA DO DESPERTAR
VIDE: Budismo
La doctrine de l’éveil — Ensaio sobre a ascese budista
Excertos em espanhol
Um dos primeiros estudos de Evola, composto ao final dos anos 30, quando realizava ao mesmo tempo a revisão de O HOMEM COMO PODER, reintitulado “YOGA DO PODER”, segundo relata em sua biografia intelectual, traduzida em francês sob o título LE CHEMIN DU CINABRE. Trata-se de uma obra sistemática sobre o Budismo das origens, que de fato só veio a ser publicado em 1943, sendo a edição mais conhecida de 1956.
Evola considera ter pago, com esse livro, uma dívida que tinha contraído à respeito da doutrina do Buda, como de fato o livro tem o mérito de procurar resgatar a tradição budista, que segundo ele (e outros pensadores como Rhys Davids) teria se perdido em sua expansão pela Ásia, através dos séculos. Os ensinamentos de Buda representaram para Evola, segundo seu próprio testemunho uma influência decisiva na superação da crise interior que teve que atravessar em seguida à primeira guerra mundial, que o levou a uma tentativa de suicídio.
Inspirado em dizeres originais de Buda, Evola passou a fazer dos registros do ensinamento de Buda, um uso cotidiano, prático e de realização, para alimentar, segundo ele, uma consciência destacada do princípio “ser”. Aquele que havia sido um príncipe dos Sakias tinha indicado uma linha de disciplinas interiores, que ele sentia tão “congenitais que poderia ME ser estranha, por outro lado, a linha de ascese com base religiosa e sobretudo cristã”.
Este livro de Evola, segundo ele, se propõe a trazer à luz a verdadeira natureza do budismo das origens, doutrina que devia se enfraquecer até se tornar irreconhecível na maior parte de suas formas seguintes, quando de sua divulgação e de sua difusão, tornando-a em muitos casos uma religião, até mesmo na concepção que dele se faz no Ocidente.
Na realidade, o núcleo essencial do ensinamento tinha tido um caráter metafísico e iniciático. A interpretação do budismo como uma simples moral tendo por fundamento a compaixão, o humanitarismo, a evasão da vida pois “a vida é sofrimento”, é demasiado extrínseca, profana e superficial. o budismo, ao contrário, foi determinado por uma vontade do incondicionado afirmada na sua forma mais radical, pela investigação daquilo que domina tanto a vida quanto a morte. Não é tanto o “sofrimento” que se quer superar mas, todavia, a agitação e a contingência de toda existência condicionada, as quais tem por origem, raiz e fundamento o desejo, uma sede que, por sua própria natureza, não poderá jamais se extinguir na vida ordinária, uma intoxicação ou “mania”, uma “ignorância”, a cegueira que leva a uma identificação desesperada, ébria e cupidinosa do “eu” em tal ou tal forma do mundo perecedor na corrente sem fim do devir, do samsara. O nirvana é somente a denominação da tarefa negativa, consistindo na extinção (da sede e da “ignorância” metafísicas). Sua contrapartida positiva é a iluminação ou o despertar (a bodhi), donde, justamente o termo “Buda”, que não é um nome como muitos creem, mas um título que quer dizer “o Desperto”.
A vontade do incondicionado leva o asceta budista além do Ser e do deus do Ser, além das beatitudes dos céus e dos paraísos, que ele considera como sendo elas mesmas um amarração, assim como todas as hierarquias das divindades populares entram segundo ele no finito, no contingencial do samsara, que é preciso transcender. Há nos textos, esta fórmula recorrente: “Ele superou este mundo e o outro mundo, se liberou da amarração humana e divina, se liberou das duas amarrações”. Por conseguinte, o fim último, a Grande Liberação, é aqui idêntica àquela da tradição metafísica mais pura: é ápice hiper-essencial anterior e superior assim como ao ser como ao não-ser e a não importa que figura de deus pessoal ou “criador”.
Mas o livro de Evola, como ele explica em sua biografia intelectual, embora procedendo a essas precisões e tratando adequadamente o quadro doutrinal essencial do budismo (por exemplo, indicando o sentido da teoria da “cadeia das origens interdependentes” que leva a existência finita, da teoria do não-eu, esclarecendo o equívoco da reencarnação, etc. é sobretudo consagrado à prática, à “ascese” do budismo, com uma exposição sistemática fundada diretamente sobre os textos. Aqui a referência a outros ensinamentos esotéricos permite a Evola, ver melhor e mais fundo que os orientalistas e mesmo representantes modernos do budismo.
Apresentamos extratos que iremos traduzindo aos poucos da versão francesa, La doctrine de l’éveil (Archè, 1976).
-CONSCIÊNCIA SAMSARICA
-GÊNESE CONDICIONADA
-CONTEXTO DA DOUTRINA DO DESPERTAR
VEJA TAMBÉM: BUDISMO