Nem sequer o Caminho, complexamente desdobrável, tão ramificado e labiríntico quanto a consciência humana, é um “método”. São infinitos os Dhammas: doze Elos (nidanas) na Cadeia, três Características de Existência, três Refúgios (tisarana), dez Preceitos Morais (sila), dez Perfeições (dasaparamitas), sete Estágios de Senciência, oito Estágios de Liberação, quatro Qualidades da Consciência Alerta, três espécies de Poder (iddhis) etc., interminavelmente, ou, na enumeração do próprio Buda, quatro aplicações da atenção, ou ideação plenamente consciente (sati), quatro esforços corretos, quatro caminhos para o poder, cinco faculdades regulativas, cinco forças, sete fatores da iluminação, e o Nobre Caminho Óctuplo, equidistante, tanto da auto-indulgência, quanto do ascetismo.
À característica da equidistância, ou “caminho do meio”, no entanto, não corresponde nada sequer parecido, seja com temperança, seja com mediocridade, pois se trata de uma ideia muitíssimo mais interessante do que a interpretação popular, que envolve a oposição entre auto-indulgência e ascetismo. Trata-se, na verdade, da dualidade da mente, sempre polarizando-se numa gangorra de opostos (p.ex., ser e dever ser). O símile, aqui, é o do equilibrista sobre uma corda, precisando alternar movimentos para um lado e outro, a fim de manter o equilíbrio. Pois bem: quando o Buda fala do Caminho do Meio (majjhimapattipada), aponta para o cair de cima da corda como sendo aquilo que deve ser atingido. Se a mente não fizer os movimentos de um lado para o outro, perderá o “equilíbrio” e cairá na não-mente. O “dever” jamais é, para o Sábio, o “fim em si”. Segundo o dictum do Sonadanda, endossado pelo Buda, unem-se inextricavelmente Sabedoria e moral — na verdade, Sabedoria e Ética —, mas de maneira paradoxal:
A moral é lavada pela sabedoria, e a sabedoria lavada pela moral. …( como se) uma das mãos lavasse a outra.