Considerado o seu nascimento, olhemos agora para a organização disciplinar e metodológica da Filosofia Budista. Quando consultado pelos discípulos “sobre como deveriam escolher entre os vários pronunciamentos de seus vários professores visitantes, cada um dos quais afirmando que seu dogma ou método era o único que levava à perfeição desejada”, o Buda respondeu: “Abandone o que você descobrir por você mesmo que leva ao sofrimento e mantenha o que você descobrir por você mesmo que leva ao bem–estar”. Literalmente: “tendo compreendido e experimentado por si mesmo, completamente” (“sayam abhihna sacchikatva”).
Não aceite nada com base em relato, tradição, ouvir dizer, transmissão do que estiver em textos sagrados, ou como resultado de lógica ou de inferência, pela tolerância indulgente de pontos de vista, aparência ou semelhança, ou por respeito devido a um professor.
Jamais o Buda disse o que está na Canção teísta e eclética do Senhor: “Abandonando todos os deveres, vinde a mim como o único abrigo. Não vos afligis; eu vos liberarei de todos os males”. Ao contrário. Tampouco são refúgios seguros “as montanhas, as florestas, os parques e as árvores dos santuários”, e “ninguém pode a um outro purificar”.
Ao prestar homenagem (puja) ao Buda, então, reverenciamos, não uma figura humana (a imagem, Buddha–pratima, desconhecida até o primeiro século de nossa era, e de introdução tardia, por influência greco-romana), ou um deus, acima de nós, que nos pudesse salvar, mas, além do humano, à nossa verdadeira natureza como tal; àquele, em nós, que tenha, assim, na eternidade, chegado (gata) a si mesmo como tal (tatha): Tathagata. Sob nenhum aspecto somos “miseráveis pecadores”.