GÊNEROS DE TERNÁRIOS
René Guénon
Excertos da tradução em português de Daniel Camarinha de “1
O que acabamos de dizer determina o sentido da Tríade, ao mesmo tempo que mostra a necessidade de estabelecer uma clara distinção entre os ternários de diferentes gêneros; na verdade, esses gêneros podem ser multiplicados, pois é evidente que três termos podem agrupar-se segundo relações muito diversas, mas insistiremos apenas nas duas principais, não só porque são as que apresentam caráter mais geral, mas também porque se referem mais diretamente ao próprio tema de nosso estudo; e, além disso, as observações que teremos de fazer a esse respeito permitirão excluir, desde já, o erro grosseiro dos que pretenderam encontrar um “dualismo” na tradição extremo-oriental. Um desses dois tipos é aquele em que o ternário se constitui de um princípio primeiro (peio menos num sentido relativo), do qual derivam dois termos opostos, ou melhor, complementares, pois, ali mesmo onde a oposição está nas aparências e tem sua razão de ser num certo nível ou num certo domínio, o complementarismo corresponde sempre a um ponto de vista mais profundo e, por conseguinte, mais verdadeiramente conforme com a natureza real daquilo de que se trata; ta! ternário poderá ser representado por um triângulo, cujo vértice é colocado em cima (Fig. 1). O outro gênero é aquele em que o ternário é formado, como dissemos antes, por dois termos complementares e por seu produto ou resultante, e é a esse gênero que pertence a Tríade extremo-oriental. Ao contrário do anterior, esse ternário poderá ser representado por um triângulo cuja base está, ao contrário, colocada em cima (Fig. 2)2. Se compararmos esses dois triângulos, o segundo aparece, de certa forma, como reflexo do primeiro, o que indica haver, entre os ternários correspondentes, analogia no verdadeiro sentido dessa palavra, isto é, devendo ser aplicada em sentido inverso; e, de fato. se partirmos da consideração dos dois termos complementares, entre os quais há necessariamente simetria, ver-se-á que o ternário é completado, no primeiro caso, pelo princípio deles e, no segundo, ao contrário, pela sua resultante, de tal modo que os dois complementares estão, respectivamente, depois e antes do termo que, sendo de outra ordem, encontra-se, por assim dizer, como que isolado em face deles3; é evidente que, em todos os casos, a consideração desse terceiro termo é que dá ao ternário como tal sua significação.
Veremos daqui a pouco por que nessa segunda figura, indicamos os três termos pelos números 2-3-4 e não por 1-2-3, como na primeira ↩
É o que, nas duas figuras, o sentido das flechas ainda indica, indo, na primeira, do vértice superior para a base e, na segunda, desta para o vértice inferior. Poder-se-ia dizer também que o número 3 dos termos decompõe-se em 1 + 2, no primeiro caso, e em 2 + 1 no segundo, e parece claramente aqui que, se esses dois conjuntos são equivalentes do ponto de vista quantitativo, não o são, de modo algum, do ponto de vista qualitativo. ↩