SIMBOLISMO — LITERATURA — GIL VICENTE (1465 — 1536)
Quando se fala de GIL VICENTE, não se dá, em geral, a devida importância ao fato de Lisboa ofuscar todas as cortes de Europa ao tempo em que GIL VICENTE compôs as suas obras, uma realidade provocada pela maior epopéia marítima que a Humanidade já viveu — a viagem de Gama à procura de pimenta e cristãos. GIL VICENTE apresenta-nos uma sociedade real e não imaginária. A sua obra assenta não em imagens ou sofismas, mas num mundo sólido e consistente em todos os seus detalhes. Sentem-se aí os ecos das conquistas, do delírio das descobertas, dum mundo novo e sem fronteiras, o apelo de novas e longínquas paragens. Não se encontra em GIL VICENTE incompatibilidade entre os prismas simbólicos ou alegóricos e os fatos historicamente conhecidos. GIL VICENTE revela na sua obra vários aspectos dessa pequena nação que por escassos anos marcou uma extraordinária carreira de navegações à volta do mundo, iniciando simultaneamente a época da ciência experimental.
Crê-se que GIL VICENTE nasceu por alturas de 1470 e faleceu entre 1536 e 1540, isto é, viveu entre o reinado de D.Afonso V e o de D. João III. A sua primeira obra teatral foi o ‘Monólogo da Visitação’ em 1502, para comemorar o nascimento de D. João III; a sua última obra conhecida é a “Floresta de Enganos” escrita em 1536. Na sua totalidade, as obras que GIL VICENTE escrevia eram para uma audiência palaciana, que certamente não deixaria de exigir um espetáculo que de algum modo refletisse o tema que nessa altura apaixonava todas as opiniões — notícias das diversas e variadas populações da índia e do Extremo Oriente.
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A nosso ver, porém, GIL VICENTE não só inspirou nas fontes indiretas e literárias de origem indiana, como também nas fontes diretas, das tradições orais que certamente devia ter ouvido nas conversações amenas e elegantes dos fidalgos que regressavam da Índia…
(Selma de Vieira Velho — “A influência da mitologia hindu na literatura portuguesa dos séculos XVI e XVII”)
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