SÍMBOLOS — GRÃO E PALHA
VIDE: PARÁBOLA DO SEMEADOR; PARÁBOLA DA CIZÂNIA; GÉRMEN
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Orígenes:
Na Homília sobre o Livro dos Números, Orígenes fala de “uma terra semeada da palavra de Deus”, e em seus Comentários sobre Ezequiel, deixa claro que “a terra, é nossa alma”. Assim elabora, sempre que trata da semente como representada na Parábola do Semeador, da necessidade de semear nas almas as santas sementes de uma doutrina santa, de acolher as santas sementes em um coração renovado, de fazer frutificar as sementes sobre o verdadeiro caminho, o Cristo.
Roberto Pla:
Evangelho de Tomé – Logion 8
A ideia do momento da sega é explicado muito claramente em uma perícope fundacional, quando João Batista promulga o Reino de Deus como voz preparatória do caminho por onde deve aceder o Senhor: “Em sua mão tem o mangual, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará” (Mt 3,12). este texto não parece ter sido entendido em seu sentido justo por aqueles que não experimentaram ainda a intuição do tesouro interior, quer dizer, “do Ser que eles são”, e por isso não sabem que não é possível que nenhum homem esteja isento do grão quando este, o grão, é o homem essencial, o homem pneumático. O que muitos entendem da enérgica afirmação de João Batista é que uns homens são grão e outros palha, segundo uma classificação absoluta e imatura que apresenta aos homens frente ao juízo divididos em bons e maus. Mas o que o mangual aventa é a palha que fica depois da messe e separado o grão da palha. O que importa entender é que a palha não é nunca nada por si mesma, senão o dejeto que fica para queimar como despojo ou envoltura do grão.
É importante esclarecer muito bem isto: o que a perícope do Batista tenta descrever não é um mundo formado por palha (homens maus) e grão (homens bons). O que explica é que todo homem consiste em ser um grão com vestimenta de palha e, em consequência, convida a todos sobre o resplendor da Boa Nova a empreender essa difícil e as vezes longa viagem cujos primeiros passos vêm assinalados pela conversão (metanoia), e ao final da qual a palha termina por ser reconhecida como palha e o grão como grão. Este é o fruto da conversão, bem distinto da posição errônea do homem que identifica a palha como grão. Quando chega a ação do mangual, o destino da palha é somente o do fogo da geena (em seu sentido real) pois este fogo atua como a vida temporal, que consume permanentemente tudo aquilo que de nenhuma maneira poderia ser purificado porque é o homem que passou pela dupla ação batismal da água e do Espírito, aprendeu a discernir e sabe que a palha aventada nunca constituiu um “si mesmo”; assim como sua consciência, desperta pelo conhecimento que trazem em sua descida as línguas de fogo, põe sem esforço o machado “à raiz das árvores sem fruto”, e quando estes são cortados para ser arrojados ao fogo, já não formam parte de seu coração.
Quanto ao grão, ele é sempre “o eleito”, o habitante desse Reino que está dentro e fora de nós e do que o evangelista João diz “em enigma”, que é o Filho do homem, “o qual não subiu ao Céu senão que desceu do Céu (em nós) e está no Céu (Jo 3,13).
Evangelho de Tomé – Logion 106
Frente à consumação do criado está a eternidade do ingênito. Assim foi dito: A Palavra do Senhor permanece eternamente”. Nessa afirmação coincide o Livro de Daniel desde o AT: “O Deus vivo subsiste para sempre; seu reino não será destruído e seu império durará até o fim”. (Se refere, sem dúvida, ao fim do criado, pois de igual maneira que o que não nasceu não pode morrer, assim o não criado não conhecerá o fim).
Tudo isto significa que quando os reinos dos céus e da terra tenham desaparecido, o espírito dos “moradores” brilhará em sua unidade com o Deus vivo em seu império único e eterno.
Em consequência, a exegese oculta do evangelho não encontra dualidade nem no princípio, nem no final da criação, porquanto a eternidade pós-escatológica, uma eternidade atemporal, consistirá em ser a unidade recuperada no reino de Deus.
Quando chegue tal ocasião, todos os grãos de semente que foram semeados no começo dos tempos, terão produzido já seu fruto de transformação. Isto é o que dizia Paulo: “Não todos morreremos, mas todos seremos transformados”. Com isto explicava o apóstolo que a transformação, o reconhecer-se como grão e deixar aventada a palha, é a obra designada. A isto agregava que alguns podem alcançar a bem-aventurança de ser transformados antes de morrer.
A transformação, esse ressuscitar de entre os mortos por renascimento interior, que consiste, já se sabe, em reconhecer-se como grão, o retira o aguilhão da morte, pois a morte da palha, que o que sempre morre, a palha, deixa de ser morte para a consciência ressuscitada, chegada à Vida eterna. A Vida eterna foi reservada desde o princípio a todos os grãos, porque eles, os grãos, tiveram sempre à Vida eterna em propriedade.