O Corvo: (al-gurâb al-hâlik), corpo universal (al-gism al-kullî).
Filho do ‘anqa e o último desses quatro princípios, a cor escura do corvo simboliza o desenvolvimento final da manifestação. O “corpo” deve ser tomado aqui em seu sentido mais amplo, como um princípio que abrange tudo o que determina os seres particulares: qualidade e quantidade, formas, existência senciente, etc. Como o limite da exteriorização do Princípio, além do qual não pode haver retorno, o Corpo universal também pode ser visto como o lugar onde as luzes estão ocultas e os segredos divinos são depositados. Tanto o corpo quanto o templo da luz (haykal al-anwâr), ele é o gerador de formas e figuras sagradas, símbolos de realidades divinas e superiores. Se a Árvore é o eixo imperceptível do universo, o Corvo é seu primeiro desenvolvimento formal: a esfera (al-falak), a primeira e mais perfeita das figuras. Nesse aspecto, ele também é um dos aspectos do Trono Divino (al-‘ars al-muhït). As três direções implicadas por essa esfera: altura, largura e profundidade, determinam as três categorias de seres: aqueles que estão no eixo do instante e recuperaram a unidade, aqueles que desfrutam das graças divinas indefinidamente estendidas no plano horizontal do Paraíso e aqueles que foram lançados nas profundezas do Inferno. Isso explica o significado escatológico do símbolo do Corvo. A Águia, que inaugura a existência, é a predecessora (sabiq), a primeira e a interior; o Corvo, que marca o fim da manifestação, é o sucessor (lahiq), o último e o exterior1. É por isso que a ocultação do corpo anuncia a ressurreição e o retorno ao estado primordial.
Isso nos leva à questão do imama, que Ibn Arabi evoca no poema final para dar a ele sua verdadeira dimensão: a dimensão escatológica do Homem universal.