Goethe vê na Natureza um jorro de formas visíveis, de “fenômenos” — no sentido de “aparições” —, que a linguagem humana é incapaz de expressar. Por que ele se apavora? Porque essas formas são, de certa forma, os sinais, as “assinaturas” de um indizível, de um desconhecido, de um inexplorável. As formas são o “símbolo”, isto é, a “revelação da vida e o instante do inexplorável”. O conhecimento da natureza consiste em alcançar o que ele denomina “fenômenos originários”, que nos revelam as leis do desenvolvimento das formas, mas que são, eles próprios, formas, e que não podem ser ultrapassados. E essa limitação, esse pressentimento do inexplorável, provoca angústia: “A apercepção imediata dos fenômenos originários nos submerge numa espécie de angústia (…). Diante dos fenômenos originários, quando, desvelados, eles aparecem aos nossos sentidos, experimentamos uma espécie de temor que pode chegar à angústia.”
De maneira mais geral ainda, há na existência, em razão daquilo que, nela, é totalmente inexplicável, algo de monstruoso e de aterrador (Ungeheuer). Goethe considera que o homem só é plenamente homem quando é capaz de assumir por completo a angústia diante do mistério da existência:
Não é no torpor que busco minha salvação
O arrepio de terror é a melhor parte do homem
Por maior que seja o preço que o mundo lhe faça pagar por esse sentimento,
É na emoção que o homem experimenta
Em seu âmago, o aterrador (Ungeheuer).
(HADOT, P. Não se esqueça de viver: Goethe e a tradição dos exercícios espirituais. São Paulo: É Realizações Editora, 2018)